11 outubro 2008

festival do rio 2008 - os fatos, os filmes e o fim

Dia 23/09 | Começa a venda dos ingressos antecipados. Na teoria, não na prática. O número de ingressos liberados para venda é tão ínfimo que é possível sair de lá de mão vazia.

Uma hora depois do início das vendas, chego ao Espaço de Cinema e retiro a minha senha para o atendimento
após perceber a quantidade de pessoas que havia naquele lugar. Estava certo de esperar muito. Olho para o papel na minha mão, a senha era 200. Olho para o painel eletrônico com a senha em atendimento, marcava 71. Estava certo de esperar mais ainda. Procuro por alguém conhecido - com senha menor que a minha. Não encontro ninguém. Resta ler ou dar uma olhada naquela lojinha-tentação de "bugigangas" de cinema e DVDs e livros usados. A partir do momento que preferi a segunda opção, tive certeza que não era o que devia ter feito - o preço de algum ingresso iria morrer em algo menos importante no momento. [in]Felizmente, consigo resistir e só saio com um DVD de Romeu + Julieta comprado por sete reais.

Imaginei que fosse esperar
por mais tempo, mas após uma hora o painel marcava a senha 199. Euforicamente, já me preparo para comprar os poucos seis ingressos que o dinheiro me permitiu. 200.

- Boa tarde. É... Rebobine, por favor.
- Não.
- Poxa. Vicky Cristina Barcelona.

- Ainda não.
- Droga. É... Cinzas do Passado - Redux.
- Também não.
- Porra! Velha Juventude.
Risos da atendente. - Não.

- Guerra sem Cortes.
Risos da atendente. - Não.
- Caralho! Queim
e depois de ler.
- Ah, esse tem!

Subo no balcão e começo a dançar o Tchan.

Triste e feliz [afinal, podia ser pior], volto com apenas um ingresso para a casa e com a convicção de que iria voltar muitas vezes ao Espaço de Cinema para comprar ingressos e nem sempre sair com eles. Não estava errado.

Dia 25/09 | Dou uma olhada no caderno do Festival que saiu no jornal O Globo, com toda a programação dividida por cinema e Mostra, da forma que não havia visto antes do dia 23. Fico maluco, pois há muit
o mais filmes interessantes do que pensava e quero ver todos; fico perdido, pois não sei como encaixar aquelas sessões entre minha obrigações; fico triste, pois não terei dinheiro para comprar tanto ingresso. Caio na real, contenho minha agitação e depois de muito pensar, adiciono à minha lista O Poderoso Chefão, O Fantasma da Ópera, Bi the way e Garoto dos Sonhos.

Lá vou eu novamente ao Espaço Unibanco comprar os ingressos. A atendente é a mesma do primeiro dia, eu digo "olá" e o diálogo que se segue é o mesmo da outra vez mais os novos filmes adicionados. E novamente só consigo um ingresso. Já estava ficando chato. Mas pelo menos, era garantido assistir O Poderoso Chefão na tela grande e isso me deixou radiante de alegria.

Dia 26/09 | À noite, vejo no site Ingresso.com que Vicky Cristina Barcelona havia sido liberado. Dou um pulo da cadeira e decido estar de pé cedo no dia seguinte para garantir meu ingresso.

Dia 27/09 | E lá estava eu no Espaço de Cinema pela manhã, já podendo contemplar meu ingresso do novo filme do Woddy Allen na mão.

- Vicky Cristina Barcelona.
- Ih, já esgotou!
- Hãããããã? Mas já? Nã
o acredito!Que merda!

Se existe um deus que rege os acontecimentos do Festival, estava certo que ele não se encontrava a meu favor. Como 20% dos ingressos são vendidos no dia da sessão, decido então mo
ntar barraca em frente ao cinema no dia.

Já sou amigo da atendente, que compartilha sua alegria comigo com o único - claro! - ingresso comprado, O Fantasma da Ópera. Veria um filme do Dario Argento no cinema! Ao menos, minha ida até lá nunca era em vão.
FILME: O PODEROSO CHEFÃO [The Godfather, 1972], de Francis Ford Coppola.
Confesso: não acho The Godfather a oitava maravilha do mundo. O livro está entre os meus preferidos, o Don Vito Corleone é um dos personagens mais fodas do cinema, mas nem assistindo na tela grande - e pela terceira vez - minha opinião mudou. Tem algumas cenas fabulosas [a do batismo é espetacular, pelo seu verdadeiro significado, sua edição e o banho de sangue e tiros visto na tela], acho o roteiro bem construído, lidando bem com todas as tramas decorrentes, as reviravoltas e a transformação do Michael Corleone no decorrer do filme contribuem para manter a minha atenção, e por aí vai. Entretanto, quando os créditos finais surgem com a trilha memorável de Nino Rota - entrei e saí da sala "cantando" o tema -, eu me pergunto se dormi em alguma parte ou se coisas passaram despercebidas por mim, pois continuo achando O Poderoso Chefão nada além de um ótimo filme. Assim é a vida. =) Sessão lotada, o rolo do filme é de propriedade particular do Coppola [segundo a informação dada antes da sessão] e para a preservação do mesmo, os negativos não eram colados, fazendo com que houvesse uma pequena interrupção a cada 20 minutos para que realizasse a troca do rolo. Tudo isso mais Marlon Brando em tamanho macro mais trilha sonora às alturas. Preciso definir a experiência? NOTA: 9
Dia 29/09 | Mas como "nada está tão ruim que não possa piorar", o dia de ir lá à toa iria chegar. E chegou.

Dia 30/09 | Quanto aos ingressos, o deus do Festival me deu uma folga - já era tempo. Rebobine, por favor, filme que mais aguardava, e Garoto dos Sonhos garantidos.

Dia 01/10 |
FILME: GAROTO DOS SONHOS [Dream Boy, 2008], de James Bolton
Começa devagar, com uma narrativa lenta, sem pressa para desenvolver o romance entre os dois garotos, trilha sonora econômica composta somente de cordas, tomadas revelando as paisagens locais, fotografia natural... Já vi isso em algum lugar [Brokeback Mountain versão teen?]. Se fosse um pouco do filme do Ang Lee já estaria bom. Depois do bom primeiro ato, mas que nunca emplaca, o filme corre ladeira abaixo ao inserir uma subtrama de teor sobrenatual [!!!], acarretando num desfecho equivocado e muito, muito estranho. É chato, infantil, bobo e eu deveria ter escolhido outro filme ao invés desse. No fim das contas, parece um filme feito exclusivamente para homossexuais. Como sinopses enganam... NOTA: 5
Chego em casa com uma forte dor de cabeça. Depois vem dor de garganta, febre, indisposição... Precisava melhorar para a sessão de Vicky Cristina do dia seguinte. Que Deus e deus me ajudem.

Dia 02/10 | Por que eu fui me sentir mal necessariamente hoje? O Universo não queria que eu visse Vicky Cristina Barcelona no cinema. Era isso. O U
niverso é maior que eu, não dá para lutar contra isso. Puto, inconformado, frustrado e febril, decido me poupar para a sessão de O Fantasma da Ópera mais tarde.
FILME: O FANTASMA DA ÓPERA [Il Fantasma dell'opera, 1998], de Dario Argento
Como um diretor consegue fazer Prelúdio para Matar, praticamente uma aula de como filmar com estilo e elegância, e essa versão de O Fantasma da Ópera, que eu poderia resumir, para ser objetivo, como uma merda? Nada de All I Ask of You, The Phantom of the Opera, Masquerade, The Music of the Night ou qualquer outra bela música da ópera original. Essa versão do Argento é um filme de terror trash com mortes incomuns, uma deturpação da história original [acredite: o Fantasma foi criado por... ratos] inserida num roteiro repleto de frases poéticas que ninguém falaria em sã consciência. Mas Asia Argento é uma belezinha e o filme de tão ridículo chega a ser engraçado. NOTA: 3,5
Dia 03/10 | Tudo o que eu queria era ver um filme bom no Festival do Rio. Tudo o que eu não conseguia era isso. Comprado os ingressos de Velha Juventude e Cinzas do Passado - Redux, mas mediante a nuvem negra que pairava sobre qualquer sessão que freqüentava, já duvidava da qualidade de qualquer filme daqui pra frente. Se Coppola fizesse um remake de Jack ou Kar Wai um Kung-Fusão, eu não me surpreenderia.

Fiz pequenas modificações na minha programação e consegui comprar todos os ingressos que gostaria. Despedi-me da minha amiga atendente dizendo que ela me dava muito azar, pois bastava ser atendido por outra pessoa para
conseguir os ingressos. Ela riu, eu disse "valeu" e não a veria mais até o último dia do Festival.
FILME: DE REPENTE, O INVERNO PASSADO [Improvvisamente l'inverno scorso, 2008], de Gustav Hofer e Luca Ragazzi
Quanto mais eu vejo documentários, mais eu gosto do gênero. E isso é uma tremenda mudança - há um tempo, eu mantinha distância de tais filmes. Retratando a homofobia na Itália mediante uma possível mudança na legislação que legaliza o casamento gay, o documentário revela um país conservador ao extremo, onde a Igreja, a sociedade e o próprio parlamento tentam vetar uma igualdade civil. Os diretores, personagens de sua própria história, amenizam com muito humor - mas sem diminuir - a incompreensível realidade a qual estão inseridos. Interessante e surpreendente para quem achava que as coisas aqui eram ruins demais para essa minoria. NOTA: 7,75
Dia 06/10 |
FILME: REBOBINE, POR FAVOR [Be Kind Rewind, 2008], de Michel Gondry
A sessão que mais esperava havia chegado. E eu não me decepcionei. Não esperava um filme no mesmo nível de Brilho Eterno - só Tarantino faz uma obra-prima atrás da outra [fãzóide mode on] -, mas Gondry compõe uma comédia prazerosa, eficiente, leve, com uma premissa original [eu nunca tinha visto nada parecido - se há, me avise] e uma sutil homenagem ao cinema, o qual por mais "simples" que seja, pode encantar o espectador no sentido em que se propõe. Michel Grondy conta essa capacidade do cinema com seu roteiro e mostra na prática com seu próprio Rebobine, por favor, simples mas com uma força tão vital que atinge o espectador com poucos minutos de exibição. Difícil não rir com a "suecagem" de longas famosos [o que foi aquela de 2001 - Uma Odisséia no Espaço?! LOL], Jack Black mais babaca do que nunca e MIchel Gondry se firmando como um dos melhores da atualidade. Quero ver de novo. NOTA: 8,75
Dia 07/10 |
FILME: CINZAS DO PASSADO - REDUX [Ashes of Time Redux, 2008], de Wong Kar Wai
Tem um primeiro ato promissor. Pensei "uhm, acho que verei o melhor filme do Festival". Quando passei a entender a história inicial - Cinzas do Passado não começa [nem termina] fácil -, dei-me conta que já estava envolvido demais com a trama e deslumbrado com o visual do filme. Mais uma vez, Kar Wai emprega cores fortes e contrastantes, utiliza-se da sombra dos objetos [ainda não esqueci o quanto uma gaiola pode contribuir visualmente numa cena] e usa como pode o foco de sua câmera; o resultado é indescritível. Porém, a exibição continua e a história vai mudando e surgem novos personagens e como são todos coreanos eu fico perdido pois são todos iguais e eu já não estava entendendo mais aquela história que vai parar em algum lugar que não sei qual é. Resumindo: eu não entendi muito bem e preciso assistir novamente. Mas aquelas imagens eram lindas demais... NOTA: --- [sendo justo]
Dia 08/10 |
FILME: DOIDÃO [The Wackness, 2008], de Jonathan Levine
Desinteressante é uma boa palavra para definir Doidão [e eu odiei esse título]. O filme não tem um sustento, só a boa sintonia em cena entre Ben Kingsley e Josh Peck [ele é EMO!], mas não chega a ser o suficiente para o resultado final ser dos melhores. Ocupando boa parte do filme com um romance que você já viu alguma vez na vida, acho sua premiação no Festival de Sundance um equívoco. Já até esqueci e nem consigo escrever mais nada. NOTA: 6,75

Dia 09/10 |
FILME: QUEIME DEPOIS DE LER [Burn After Reading, 2008], de Ethan e Joel Coen
Os irmãos Coen nasceram virados para a lua. Eles são iluminados. Já não bastava a obra-prima que realizaram este ano, Onde os Fracos Não Têm Vez, a dupla volta ao estilo de Fargo e entrega uma outra maravilha. Queime Depois de Ler é tão estúpido que os próprios criadores debocham da história que inventaram. É tão estúpido que chega a ser impensável por qualquer pessoa comum [eles são iluminados, como havia dito]. É tão estúpido que eu gargalhei inúmeras vezes durante a sessão. E é tão estúpido ao ponto de ser verossímil. Com um elenco irretocável [Frances McDormand é minha favorita, apesar da estupidez de Brad Pitt precisar ser citada] e uma trilha sonora que marca presença, o filme é surpreendente a cada instante e duvido que consiga imaginar onde a história irá chegar. Um dos melhores finais que já vi. Os créditos finais surgiam e eu ainda estava rindo. O melhor do Festival. NOTA: 9

FILME: VELHA JUVENTUDE [Youth Without Youth, 2007], de Francis Ford Coppola
Que filme estranho! Estranho num sentido ruim. Imagine um "mutante" vivendo durante a Segunda Guerra Mundial. Imagine esse "mutante" ser alvo de interesses nazistas. Imagine Tim Roth fazendo tal mutante, que numa cena, retira por telepatia uma arma - que fica revestida por pequenos raios - da mão de um personagem. Imagine Coppola dirigindo tudo isso. Consegue? Ele até que cria um estilo interessante, empregando enquadramentos não convencionais, invertendo verticalmente a imagem, fotografia bonita, mas... o roteiro é bizarro demais! Ok, é fato eu não ter entendido tudo, mas a história é ruim, não gostei. Às vezes parecia filme B de terror. Por não ter compreendido em sua totalidade, darei uma nova chance - o que, pra falar a verdade, não gostaria de fazer. Mais longo do que deveria, Velha Juventude é um pé-no-saco. Comecei e terminei com Coppola, só não achava possível isso na prática ser tão díspar. NOTA: 4,5
Não vi tantos filmes como em 2006 e nem um Tarantino como foi em 2007, dei azar com alguns filmes, mas não sou vidente. No fim das contas, tudo acaba valendo a pena - e os R$ 54 gastos somente com ingressos são meros detalhes. Se esse blog durar um ano, em 2009 retorno com o mesmo assunto. Até lá, eu espero.

3 comentários:

O Lerdo disse...

Pode falar. Você estava morrendo de saudades de fazer essas análises xD

Pedro Henrique Gomes disse...

Bom saber que o filme dos irmãos Coen foi o melhor do festival. É o que eu mais espero para esse final de ano!!! Abraço!

A Vilã disse...

Bem, confesso que só li sobre o filme que vi.
Estou sem saco para ler.

E só de ler sobre Velha, me cansei mais. xD