30 novembro 2008

top 10 | filmes surperestimados

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"O que é a idéia de 'clássico' senão a idéia de um filme indiscutivelmente bom, para a conveniência de um público preguiçoso demais para formar uma opinião própria?"
Bernardo Krivochein

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É uma posição muito cômoda para qualquer cinéfilo qualificar como clássico ou obra-prima um filme que há décadas carrega esses títulos. Da mesma forma, uma opinião contrária pode chegar a ser um incômodo. Qual é a dificuldade em dizer que Cidadão Kane é um de seus filmes favoritos se qualquer lista de "Melhores de Todos os Tempos" o encabeça como tal? Mas dizer que não gosta de Stanley Kubrick pode estourar uma apartheid - e eu seria o primeiro a discriminar o irracional que profanasse tamanha falácia.

Ontem fui assistir Blow Up feliz e contente. Ê, todo mundo diz que é foda! Ê, é Antonioni! Ê! Ê! Ê! Ê que o filme terminou e eu fiquei com uma cara de WTF para a tela. A primeira coisa que pensei: "Que droga! Esse filme foi um saco!". E a segunda foi que eu teria algum problema por achar isso. Se o mundo [ou a maior parte dele, já que "toda unanimidade é burra"] diz que o filme é uma obra-prima, é bem provável que há motivos para isso.

O final é absolutamente foda, uma cena que isolada já seria bela o suficiente. Como desfecho da obra, concentra toda a concepção do filme, encerrando liricamente a noção de realidade e imaginário e o personagem do David
Hemmings lidando de forma mais direta com essa dicotomia - se é que ambos estejam separados. Porém, um filme não é só o seu final e o decorrer de Blow Up não me agradou. Do Antonioni só havia assistido Profissão: Repórter o qual esteticamente acho mais interessante, ainda que Blow Up contenha enquadramentos e composição de cena tão estilosos quanto. É fato eu não ter entendido todos os simbolismos propostos, ainda terei que rever mais algumas vezes, o que não será das tarefas mais prazerosas.

É isso, faltou prazer. Por enquanto, tenho a dizer [com receio] que a primeira impressão foi negativa. Mas havia achado Pulp Fiction bem normal na primeira vez que o assisti e hoje tem um poster do filme na parede do meu quarto; já dei a Jesus Cristo Superstar o título de "pior filme do mundo, o qual hoje, é, com folga, um dos meus musicais preferidos. Uma revisada pode mudar muita coisa - ou apenas reforçar sua opinião
. E essa é uma das melhores coisas do cinema.

Assim, ainda que amanhã possa estar diferente, deixo aqui meu TOP 10 dos filmes mais superestimados da história. Vale ressaltar que, com exceção de poucos, não são filmes ruins - alguns até gosto -, mas filmes cultuados demais por aí que pra mim não são grande coisa. Fique à vontade para jogar pedras e deixar seu top nos comentários.


1. Casablanca [idem, de Michael Curtiz - 1942]
2. Fogo Contra Fogo [Heat, de Michael Mann - 1995]
3. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa [Annie Hall, de Woody Allen - 1977]
4. Blow Up - Depois Daquele Beijo [Blowup, de Michelangelo Antonioni - 1966]
5. Encontros e Desencontros [Lost in Translation, de Sofia Coppola - 2003]
6. Dogville [idem, de Lars von Trier - 2003]
7. Metrópolis [Metropolis, de Fritz Lang - 1927]
8. Platoon [idem, de Oliver Stone - 1986]
9. Qualquer um do Chaplin - que não seja O Grande Ditador
10. Wall-E [idem, de Andrew Stanton - 2008]

28 novembro 2008

oh happy day! mas não é natal, é cinema

Compondo a mesa (da esquerda para direita): Gustavo Dahl, Walter Salles, Cacá Diegues, Rosa Maria Araujo, Arthur Xexéo e Zezé Motta.

Ocorreu ontem no Museu da Imagem e do Som um depoimento do Cacá Diegues. Apesar de só ter visto Bye Bye Brasil do cineasta, resolvi ir mesmo sem saber como se procedia esses tipos de depoimentos, os quais, para a minha surpresa, ocorre todo mês no Museu com um convidado diferente - já passaram por lá desde João Ubaldo Ribeiro a Manuel Bandeira! Acho que seria interessante ouvir de um dos pensadores do Cinema Novo sua trajetória como profissional e os momentos do cinema brasileiro em 50 anos.

E foi mais que interessante. Quatro horas de uma aula de cinema brasileiro, de um depoimento apaixonado de um cineasta apaixonado por seu ofício. Ouvimos curiosidades e experiências de cada produção de Diegues, sua infância - a arte cinematográfica sempre esteve presente em sua vida -, sua relação com outros cineastas, sempre de forma divertida e edificante de certa forma. Por vários momentos me senti privilegiado por estar naquela sala aprendendo por meio de um artista fundamental para a nossa cultura. Sei que saí de lá com uma vontade ainda maior da qual já me pertence de ver muitos filmes nacionais, estudar cinema e fazer cinema. Foi um grande prazer fazer parte daquele momento que ficará guardado para sempre no registro do museu através das fitas gravadas e, sem parecer piegas mas já sendo, em mim também.

O que também ficou registrado foi meu encontro com Walter Salles - e confesso que fui lá em grande parte para isso. Notavelmente trêmulo e com a voz quase inaudível, tomei coragem e após o evento fui ao encontro a um dos melhores cineastas do momento. É o tipo de chance que não se pode desperdiçar.

- Oi, Walter. Você poderia autografar meu DVD de Diários de Motocicleta?

- Claro.

- E você poderia tirar uma foto também?

- Claro.

Peguei o DVD e a caneta e enquanto ele escrevia precisava agradecer por ter me proporcionado uma experiência maravilhosa com seu filme.

- Muito obrigado por ter feito Linha de Passe. Eu não andava muito bem com o cinema, não sentia nada com o que via. A partir daí ele pára de escrever e me ouve com um grande sorriso, muito sincero. - E em Linha de Passe eu "saí" do cinema. Fiquei o tempo todo maravilhado com o que via.

- Ah, muito obrigado. Nós o fizemos com muito carinho.

Autógrafo terminado, fotos tiradas [muito mal, pois não contava com uma boa fotógrafa] e eu muito feliz. Apertou minha mão e perguntou:

- Você faz cinema?

- Não, faço cenografia. Mas irei para o cinema.

- Já tem uma porta aberta, já está no caminho.

Eu saí de lá saltitante, enriquecido com tudo que ouvi de grandes artistas e com um DVD autografado por Walter Salles! Resumindo: um grande dia.


27 novembro 2008

na hora errada

Uma amiguinha que sempre se atrasa em seus compromissos, deixou-me plantado durante muitos minutos na estação de metrô da Carioca. Abre colchetes: quando se espera uma pessoa por muito tempo - digo muito tempo mesmo -, não há nada mais irritante de vê-la caminhando ao seu encontro sorridente ao chegar no local. Não um sorriso de "Ih, faz merda! Não deveria ter me atrasado", mas de "Nossa, querido, esperou muito? Fico feliz por finalmente te ver". Na realidade, nenhum tipo de sorriso se encaixa bem nessas horas. Ninguém com remorso fica sorrindo e eu não gostaria de ver alguém que me deixou esperando, feliz.

É como no trânsito, onde um engarrafamento se justifica com uma tragédia. Se tiver ocorrido um acidente, ok, mas ficar parado por um longo tempo e numa altura qualquer o trânsito melhorar sem ver um carro de bombeiro parado na pista, pode causar frustração.

Ontem esperei uma prima por duas horas. Mas ao menos estava na Livraria da Travessa do Barra Shopping, onde nunca havia visitado. Depois de cinco minutos lá, achei que havia morrido e estava no céu. Primeiro que não há quem te incomode - havia uma garoto lendo história em quadrinho e, acredite, um homem copiando trechos de um livro, aberto em seu colo. Não é preciso abusar, mas pode-se ficar bem à vontade. Livros, muitos livros, DVDs raríssimos e o CD da trilha sonora de Into the Wild para ouvir naquelas máquinas com fones de ouvido ultra fodas. Se houvesse uma TV e um DVD, eu viveria lá e seria uma pessoa muito feliz.

Só que depois de uma hora só admirando a paisagem, sem poder comprar nada, pensa-se ou em pegar o máximo de coisas possíveis e sair correndo da loja sem olhar para trás ou sacanear sua prima e ir embora ou continuar esperando, alimentando a agonia e a raiva que toma conta de cada da célula do corpo.

Até o céu nessas circunstâncias perde seu bálsamo. Que dirá uma estação de metrô, que por si só não tem nenhum atrativo. Nesse tempo de espera, localizei-me perto de uma das saídas da estação, quando uma mulher se aproxima:

- Você sabe onde fica a saída para a Nilo Peçanha?

Por mais que eu ande pelo Centro do Rio, eu ainda me perco fácil entre as ruas cariocas - e não gravo seus nomes. Então, automaticamente ao ouvir a pergunta, construo mentalmente um mapa da cidade.

- Uhmmm... É por ali. E aponto para a saída mais distante de onde nos encontrávamos.

- Obrigado.

Cinco minutos depois, a mulher volta na minha direção com passos fortes, dá um soslaio do desprezo em mim direção e segue pelo caminho correto.

E minha amiga chegou um pouco depois. Nem demorou tanto.

23 novembro 2008

beleza ininteligível

Acabei de [re]assistir 2001 - Uma Odisséia no Espaço.

Eu tenho um desejo: entender 2001 - Uma Odisséia no Espaço.

Mas como acredito que a arte não precisa ser entendida para ser sentida, 2001 - Uma Odisséia no Espaço me deixa embasbacado do início ao fim. Difícil, muito difícil - ainda hei de revê-lo muitas vezes para compreender o significado do que ainda me deixa perturbado -, mas uma ode, lindo e muito foda - e hei de rever principalmente por isso.

11 novembro 2008

Deus, tente outra vez

Hoje no ônibus, uma mulher paga a passagem e passa pela roleta e senta em um lugar vago, ocupando completamente o seu assento e metade de outro ao lado. Abre sua bolsa e retira um pequeno saco plástico e joga no chão do ônibus. Em seguida, remexe dentro da bolsa e agora é a vez de uma embalagem de bala, que passa a fazer companhia ao outro lixo no piso do veículo. Tudo numa naturalidade tamanha.

Ontem no trem, o trabalhador ao meu lado comia um pastel gorduroso, adicionado de ketchup que era transportado em seu bolso. A pequena embalagem do molho é lançada nos trilhos, num simples movimento do homem levantar o braço e encurvar sua mão para trás em direção à janela aberta. Continuava olhando para a frente e comendo o seu pastel, envolto num guardanapo e num saco de papel, os quais também não seguem viagem e ficam no meio do caminho, lá pelos trilhos. Caso ele estendesse o braço para a sua esquerda ao invés de para trás, o lixo estaria dentro de uma lixeira.

Um certo dia no trem, após ler um anúncio que carregava, o rapaz o amassa, fazendo dele uma bolinha de papel a fim de ser arremessada para fora do transporte. Poucos minutos se passam. Ele retira seu MP3 do bolso e encaixa o fone e aperta um botão. Retira a pilha descarregada do aparelho e a joga pela janela. Pegue uma nova pilha do bolso para ser plugada no MP3. Não havia lixeiras nesse vagão, mas por que não guardá-la no bolso no lugar da outra?

Isso quando não acham que temos que ver essas cenas ao som de funk. Porque agora virou moda não usar mais fone de ouvido com o celular. O indivíduo compartilha o pancadão com todo o transporte coletivo por conta própria. Ninguém pede. Ele somente parte do princípio que todos devem ouvir o mesmo som que ele durante toda a viagem.

São cenas do meu dia-a-dia. Não tento mais entendê-las. Não acredito numa revolução humana - pelo menos, não para essas pessoas. Como diz um certo blogueiro, "a humanidade não deu certo". E sinceramente, dá nojo.

06 novembro 2008

para graves problemas, simples soluções

Há momentos que me sinto passando por uma certa crise. Não crise existencial, sexual... As desse tipo são minhas companheiras fiéis. Podem se ausentar de vez em quando, dando uma folga para si [e para mim], mas são filhas pródigas e sempre voltam para o papai aqui. Acolho-as mesmo sabendo que irão tirar novas férias em breve. É quase o ciclo da vida que Mufasa explicou para o Simba quando este ainda era um filhote e esperava euforicamente o seu reinado.

Mas não são essas crises. Falo de uma crise, digamos, na falta de um termo melhor, "cinematográfica". São fases as quais não me sinto um bom receptor da arte. Ou um receptor insensível, imaturo, desprovido de maiores emoções, incapaz de perceber o que um filme tem de bom ou de sentir seja lá qual sensação ele possa causar. É como uma maré de falta de percepção artística. Não digo só em não notar as qualidades técnicas do filme, mas de ser tocado, de sentir prazer, de ser atingido por algo aquém da minha realidade. É claro que o prazer vem quando me deparo com um bom filme. Isso é tão óbvio quanto dois mais dois é igual a quatro. Todavia, porém, entretanto, há filmes que tem qualidade técnica, nenhum problema gritante, uma boa história e blá blá blá, mas ainda assim sinto-me distante do que assisto.

Um dia desses falava com a Suzana: "Os filmes do Hitchcock são bem bons, mas quando termina parece que não vi mais que uma boa história bem filmada". Isso é meio crítico - quero dizer, talvez eu me "critique" por isso -, principalmente por se tratar de Hitchcock, o grande Hitchcock - e, de fato, não duvido da sua grandeza. Mas acontece, né? Acontece com você também? O problema vem com uma correnteza de filmes desse naipe e daí explode a crise. Porque assistir um, dois filmes consecutivos e se deparar com essa questão, tudo bem. Mas quando se vê cinco filmes e percebe isso com todos, você acaba achando que o problema não estão nos filmes, mas em você.

Eu me encontrava assim.


E aí ontem eu fui assistir Linha de Passe.

Assisti também Baby Love, mas não é desse que quero falar, ainda que tenha sido bem agradável e divertido. Pra falar a verdade, também não quero resenhar sobre Linha de Passe, pois não conseguiria. Não tem coisa mais falível que transpor emoções em palavras. Seria incapaz de escrever o quanto Linha de Passe me atingiu, mas posso dizer que ao sair do cinema, a vida de cada personagem do filme ainda se misturava à minha. Ainda estava vibrante por alguns e triste pelas atitudes que outros tomaram contra a sua vontade. Se pude ser tocado pela beleza artística das imagens feitas por Walter Salles e Daniela Thomas, sou atingido da mesma forma pela história contada. Não é um filme sobre miséria, pobreza, desigualdade social, mas sobre ausências, esperança, sonhos, conquistas, desamparo. São paradoxos que permeiam a vida daqueles cinco humanos tão distantes se vistos isoladamente, mas tão próximos pela relação familiar e afetiva. E digo "humanos" ao invés de "personagens" pois a simplicidade com a qual a realidade é mostrada, seja pela atuação dos atores, seja pelos conflitos, é o que faz de Linha de Passe um filme envolvente e tocante até o último frame.

Quanto a edição, fotografia, trilha sonora, minúcias da direção e essas coisas, deixo para quem entende melhor que eu. E não são sobre esses detalhes que precisava falar, ainda que esses detalhes tenham contribuído imensamente para a minha impressão do todo. O mais importante é que me deparei com aquele tipo de filme que justifica o meu amor por cinema e faz dele uma arte completa.

Assim, sinto-me longe de uma crise por um bom tempo. =)

04 novembro 2008

piorou de vez...!

"Projeto do Senado proíbe meia-entrada nos finais de semana e feriados" [notícia na íntegra]

Mas que porra é essa?

Talvez você soubesse disso há mais tempo que eu, mas como vivo num mundo paralelo, só tive conhecimento da notícia hoje. E fiquei assim, um tanto puto, para ser mais objetivo.

Por que esses senadores querem mexer justamente na lei que mais me beneficia? Eu quase não vou ao cinema final de semana, é verdade, mas pode acontecer. É justamente o dia em que o preço é abusivo. Fico com dó de quem tem que pagar R$ 16/18 para assistir a um único filme. Eu não pagaria isso nem por uma sessão especial de Magnólia no melhor cinema do Rio de Janeiro. O que é mentira, claro. Mas os ingressos de cinema estão absurdamente caros. Talvez esteja sendo um tanto egoísta e partindo do princípio que manter um cinema, principalmente os de rua, seja fácil. Mas semana passada paguei R$ 7,50 em plena segunda-feira! E o pior: a sala era feia, tela pequena e som ruim [estou falando do Rio Sul]. E ainda tem gente que compra aqueles combos de pipoca e refrigerante, o que faz de uma simples ida ao cinema um pique-nique de luxo e incomoda as pessoas, porque que barulho chato da porra faz aquele saco de pipoca! Fica uma orquestra de barulhos durante o filme. Ainda taco na cara de um.

E a notícia, pois então... Uma das propostas é criar a Carteira de Identificação Estudantil, o que seria um documento padrão para os estudantes e isso sim é uma boa solução para acabar com as carteiras falsificadas. Algo que sem dúvida deve ser combatido, tanto que é basicamente por elas que o Senado está tendo esse equívoco de restringir a meia-entrada aos dias úteis. São coisas que andam separadas, não acham? O valor total do ingresso aos finais de semana não soluciona nada e só beneficia as grandes redes [o que, volto a dizer, não devem sair no prejuízo por esse tipo de crime]. A carteira falsa ainda poderá ser usada em todos os outros dias. Ou seja, o que deve ser combatido, não será combatido.

Para shows e afins, é engraçado que a meia-entrada fica restrita às segundas, terças e quartas-feiras. Agora me diga se você já foi a algum show em um desses dias da semana. Pode ter ido, mas não foi a maioria, com certeza. Sem condições pagar R$ 80/100 para um show e peça de teatro! Eles disseram que se a lei entrar em vigor, o preço dos ingressos vão cair. Você acredita? Eu não. Justamente agora que iriam faturar mais, o preço terá uma queda de, digamos, 30%, assim, bruscamente? Duvido. Isso não faz parte do sistema.

Com essa lei ou não, estou me dando conta que terei que ser estudante para o resto da vida.