05 outubro 2008

festival do rio 2008 - a semiótica


Há uma época do ano sagrada para qualquer carioca amante de cinema. Todo final de setembro sou tomado pela mesma agitação, euforia, ansiedade e tudo o mais que siga essa linha. Minha vontade de estar numa sala de cinema parece que triplica instantaneamente e se torna uma obrigação, um compromisso importante, basta eu ver algum anúncio do Festival do Rio pela cidade. Mas para usufruir do evento em pleno gozo, não basta apenas morar no Rio de Janeiro e ser cinéfilo.

De imediato, dois fatores me vêm à cabeça: dinheiro e tempo. São primordiais e os mais complicados - sabemos que ambos são algo desejado pela raça humana mais de uma vez ao dia -, pois precisam andar juntos para que o resultado seja satisfatório. Ser folgadamente ocioso, mas não dotado de uma carteira gorda, não traz muitos frutos. Uma boa saída neste caso é ser STAFF, assim poderá ver gra-tui-ta-men-te quantos filmes desejar. E como já é provido de tempo e trabalho voluntário enobrece a alma, duplique sua carga horária de "trabalho" para garantir mais sessões. Com muita tristeza no coração, digo que este não é o meu caso.

Há outras soluções como roubar velhinhas ao saírem do banco, ficar na esquina, contrabando e coisas parecidas, mas não é o mais recomendado. Ou diga para quem te banca com um tom de lamentação na voz: "Preciso assistir a esse filme no Festival? O que você pode fazer por mim?". Você terá que repetir isso várias vezes, preferencialmente em horas diferentes e oportunas - nunca depois de chegar a fatura do cartão de crédito -, mas sem exagerar pois cinema não enche barriga e a comida do mês seguinte precisa estar garantida. Até agora minha mãe não perguntou por que eu preciso assistir tal filme nem sugeriu que esperasse, e tem contribuído financeiramente [leia-se: sem não fosse por ela, não veria nada].

Também pode prover de muito capital, mas ser daqueles que precisam agendar uma ida ao banheiro ou vítima de uma conspiração internacional feita por todos os seus professores da faculdade, que decidiram passar um amontoado de provas e trabalhos justamente durante o Festival. Meu caso não chega a esses dois extremos e como ando bem desgostoso com a faculdade [pulemos essa parte], tempo não tem sido um grande empecilho. Basta faltar algumas aulas e sair cedo de outras para assistir àqueles filmes indispensáveis. E pre
encher os buracos da grade de aulas para conferir mais alguns.

Em outras palavras, durante o Festival do Rio, o melhor é ter nascido filhinho-de-papai e ser um exímio coçador de saco [não no sentido literal]. Se, como eu, você não se enquadra nessa situação, azar, dê seu jeito, e boa sorte.

Ainda fui injustiçado pela vida por morar mal - pessimamente mal para ser mais preciso -, o que me faz descartar qualquer sessão após às 21h. Sim, tenho muito medo da Central do Brasil e, apesar de amar em demasia o cinema, prezo pela minha vida e pelos meus pertences. Aliás, imagine roubarem minha mochila com os ingressos antecipados do Festival?! Se o ladrão ainda fosse assistir aos filmes - o que duvido -, iria contribuir artisticamente para a vida dele e como acredito no poder renovador do cinema, poderia tirar um do crime. Legal, não? Mas que aconteça com outra pessoa.

Outro fator é saber se organizar. Pois vejamos: você tem um cardápio de centenas de longas e curtas, divididos em mostras para todos os gostos - todas atrativas à sua maneira -, o que resulta em sessões com horários próximos e lugares diferente e terá que abrir mão de alguns filmes para poder ver outros e isso te deixará muito mal e triste. Sendo assim, ser decidido não é requisito, mas facilita as coisas. É chato, mas ao mesmo tempo prazeroso, folhear, provavelmente até o último dia de festival, o caderno com a programação, riscar um filme aqui por ser longe demais, outro ali porque o horário não bate e anotar num papel o que foi decidido. Essa é uma das graças do Festival do Rio: ficar extremamente confuso e se perder entre suas escolhas.

Mas, assim como para tudo na vida - como mostrou Macth Point, do Woddy Allen -, é bom que a sorte esteja ao seu lado. Claro que um bom faro é imprescindível na hora de escolher o que assistir, mas talvez seja possível não conhecer o diretor de um filme da década de 80 do Irã que está em exibição no Festival. O bom [isto é, o que eu faço] é garantir os mais comentados do Panorama Mundial, para quando estrearem futuramente por aqui [se estrearem! - cadê Detah Proof no cinema mais perto de você?] não precisar se preocupar. Com esses ingressos comprados, como escolher as outras produções?

Sinopse não é confiável, título muito menos. No Festival do Rio de 2006, escolhi, junto com minha companheira, dois filmes somente pelo o título. Um se chama O Mais Belo dos Meus Melhores Anos. Nome bonito, não? Mas o filme era uma bosta! Lembro que não aguentava mais assistí-lo. Já o outro entra no meu TOP de filmes preferidos e foi a maior supresa [positiva] do Festival até hoje. Só como curiosidade, chama-se C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor. Mas como um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, experiência assim não aconteceu mais.

E sorte, pe
lo menos até o dia de hoje, não tem me acompanhado como eu gostaria no Festival do Rio deste ano.

[Continua]

5 comentários:

O Lerdo disse...

Serei sincero, não me sinto nem um pouco assim no Festival do Rio. Mas entendo perfeitamente o que acontece, pois todo mês de julho eu fico louco pelo Anima mundi ^^

Então, se trocar os nomes você verá um relato quase idêntico sobre os prazeres e problemas do meu evento favorito.

Morar na Baixada é ruim demais, não ter tempo é ruim demais... mas é melhor ser assim do que ser um coçador de saco filhilho-de-papai. Se eu fosse um, nem me importaria com cinema ou animação, iria é em todas as baladas e micaretas. Prefiro morrer pobre.

Pedro Henrique Gomes disse...

Queria tanto estar neste festival para ver o filme do Woody Allen e o dos irmãos Coen!!!

Anônimo disse...

Um raio nao cai duas vezes no mesmo lugar, realmente... Imagina achar C.R.A.Z.Y. por sete reais outra vez! :O
Brincadeira, meu bem :****************

Anônimo disse...

"Se o ladrão ainda fosse assistir aos filmes - o que duvido -, iria contribuir artisticamente para a vida dele e como acredito no poder renovador do cinema, poderia tirar um do crime."

Tb acredito... hehe
Hora de trocar seu curso por uma licenciatura meu bem...


=**
Post legal demais!

Unknown disse...

Já que é pra comentar sem receios...

Eu, definitivamente, estou ficando velho demais. Primeiro, porque não tenho mais tempo de conferir nada com esses horários do festival. Filmes à tarde, durante a semana, não posso por causa do tabalho. Saio tarde, 22h, ou seja, à noite também não posso. Trabalho nos finais de semana, quando tem plantão, e com eleições tem plantão todo o fim de semana - também não posso.

Depois, é preciso se degladiar para conseguir um ingresso e passar por aquela provação típica dos multiplex, que me irrita profundamente: fazer fila para pegar os melhores lugares, sair correndo feito gado, equilibrando o balde de pipoca em uma mão, o refrigerante na outra. Atender o celular e dizer baixinho "não posso falar agora... tô no cinema...".

E ainda ouvir comentários, narrações e reflexões daquela gente que lê coluna do Rubens Ewald Filho.

Quando eu tinha a sua idade (coisa de velho), eu escolhia um cinema, fazia amizade com o lanterninha e via quase tudo de graça - porque não lotava! Não era cult, não era legal, não era badalado.

Eu perdi a graça. Não vi nenhum filme do festival... E ainda me digo cinéfilo! rs...

Abs.