02 dezembro 2008

the end

Chega de receio... aqui.

A vida segue em novo endereço:
http://receioderemorso.wordpress.com

Um abraço e até lá!

30 novembro 2008

top 10 | filmes surperestimados

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"O que é a idéia de 'clássico' senão a idéia de um filme indiscutivelmente bom, para a conveniência de um público preguiçoso demais para formar uma opinião própria?"
Bernardo Krivochein

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É uma posição muito cômoda para qualquer cinéfilo qualificar como clássico ou obra-prima um filme que há décadas carrega esses títulos. Da mesma forma, uma opinião contrária pode chegar a ser um incômodo. Qual é a dificuldade em dizer que Cidadão Kane é um de seus filmes favoritos se qualquer lista de "Melhores de Todos os Tempos" o encabeça como tal? Mas dizer que não gosta de Stanley Kubrick pode estourar uma apartheid - e eu seria o primeiro a discriminar o irracional que profanasse tamanha falácia.

Ontem fui assistir Blow Up feliz e contente. Ê, todo mundo diz que é foda! Ê, é Antonioni! Ê! Ê! Ê! Ê que o filme terminou e eu fiquei com uma cara de WTF para a tela. A primeira coisa que pensei: "Que droga! Esse filme foi um saco!". E a segunda foi que eu teria algum problema por achar isso. Se o mundo [ou a maior parte dele, já que "toda unanimidade é burra"] diz que o filme é uma obra-prima, é bem provável que há motivos para isso.

O final é absolutamente foda, uma cena que isolada já seria bela o suficiente. Como desfecho da obra, concentra toda a concepção do filme, encerrando liricamente a noção de realidade e imaginário e o personagem do David
Hemmings lidando de forma mais direta com essa dicotomia - se é que ambos estejam separados. Porém, um filme não é só o seu final e o decorrer de Blow Up não me agradou. Do Antonioni só havia assistido Profissão: Repórter o qual esteticamente acho mais interessante, ainda que Blow Up contenha enquadramentos e composição de cena tão estilosos quanto. É fato eu não ter entendido todos os simbolismos propostos, ainda terei que rever mais algumas vezes, o que não será das tarefas mais prazerosas.

É isso, faltou prazer. Por enquanto, tenho a dizer [com receio] que a primeira impressão foi negativa. Mas havia achado Pulp Fiction bem normal na primeira vez que o assisti e hoje tem um poster do filme na parede do meu quarto; já dei a Jesus Cristo Superstar o título de "pior filme do mundo, o qual hoje, é, com folga, um dos meus musicais preferidos. Uma revisada pode mudar muita coisa - ou apenas reforçar sua opinião
. E essa é uma das melhores coisas do cinema.

Assim, ainda que amanhã possa estar diferente, deixo aqui meu TOP 10 dos filmes mais superestimados da história. Vale ressaltar que, com exceção de poucos, não são filmes ruins - alguns até gosto -, mas filmes cultuados demais por aí que pra mim não são grande coisa. Fique à vontade para jogar pedras e deixar seu top nos comentários.


1. Casablanca [idem, de Michael Curtiz - 1942]
2. Fogo Contra Fogo [Heat, de Michael Mann - 1995]
3. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa [Annie Hall, de Woody Allen - 1977]
4. Blow Up - Depois Daquele Beijo [Blowup, de Michelangelo Antonioni - 1966]
5. Encontros e Desencontros [Lost in Translation, de Sofia Coppola - 2003]
6. Dogville [idem, de Lars von Trier - 2003]
7. Metrópolis [Metropolis, de Fritz Lang - 1927]
8. Platoon [idem, de Oliver Stone - 1986]
9. Qualquer um do Chaplin - que não seja O Grande Ditador
10. Wall-E [idem, de Andrew Stanton - 2008]

28 novembro 2008

oh happy day! mas não é natal, é cinema

Compondo a mesa (da esquerda para direita): Gustavo Dahl, Walter Salles, Cacá Diegues, Rosa Maria Araujo, Arthur Xexéo e Zezé Motta.

Ocorreu ontem no Museu da Imagem e do Som um depoimento do Cacá Diegues. Apesar de só ter visto Bye Bye Brasil do cineasta, resolvi ir mesmo sem saber como se procedia esses tipos de depoimentos, os quais, para a minha surpresa, ocorre todo mês no Museu com um convidado diferente - já passaram por lá desde João Ubaldo Ribeiro a Manuel Bandeira! Acho que seria interessante ouvir de um dos pensadores do Cinema Novo sua trajetória como profissional e os momentos do cinema brasileiro em 50 anos.

E foi mais que interessante. Quatro horas de uma aula de cinema brasileiro, de um depoimento apaixonado de um cineasta apaixonado por seu ofício. Ouvimos curiosidades e experiências de cada produção de Diegues, sua infância - a arte cinematográfica sempre esteve presente em sua vida -, sua relação com outros cineastas, sempre de forma divertida e edificante de certa forma. Por vários momentos me senti privilegiado por estar naquela sala aprendendo por meio de um artista fundamental para a nossa cultura. Sei que saí de lá com uma vontade ainda maior da qual já me pertence de ver muitos filmes nacionais, estudar cinema e fazer cinema. Foi um grande prazer fazer parte daquele momento que ficará guardado para sempre no registro do museu através das fitas gravadas e, sem parecer piegas mas já sendo, em mim também.

O que também ficou registrado foi meu encontro com Walter Salles - e confesso que fui lá em grande parte para isso. Notavelmente trêmulo e com a voz quase inaudível, tomei coragem e após o evento fui ao encontro a um dos melhores cineastas do momento. É o tipo de chance que não se pode desperdiçar.

- Oi, Walter. Você poderia autografar meu DVD de Diários de Motocicleta?

- Claro.

- E você poderia tirar uma foto também?

- Claro.

Peguei o DVD e a caneta e enquanto ele escrevia precisava agradecer por ter me proporcionado uma experiência maravilhosa com seu filme.

- Muito obrigado por ter feito Linha de Passe. Eu não andava muito bem com o cinema, não sentia nada com o que via. A partir daí ele pára de escrever e me ouve com um grande sorriso, muito sincero. - E em Linha de Passe eu "saí" do cinema. Fiquei o tempo todo maravilhado com o que via.

- Ah, muito obrigado. Nós o fizemos com muito carinho.

Autógrafo terminado, fotos tiradas [muito mal, pois não contava com uma boa fotógrafa] e eu muito feliz. Apertou minha mão e perguntou:

- Você faz cinema?

- Não, faço cenografia. Mas irei para o cinema.

- Já tem uma porta aberta, já está no caminho.

Eu saí de lá saltitante, enriquecido com tudo que ouvi de grandes artistas e com um DVD autografado por Walter Salles! Resumindo: um grande dia.


27 novembro 2008

na hora errada

Uma amiguinha que sempre se atrasa em seus compromissos, deixou-me plantado durante muitos minutos na estação de metrô da Carioca. Abre colchetes: quando se espera uma pessoa por muito tempo - digo muito tempo mesmo -, não há nada mais irritante de vê-la caminhando ao seu encontro sorridente ao chegar no local. Não um sorriso de "Ih, faz merda! Não deveria ter me atrasado", mas de "Nossa, querido, esperou muito? Fico feliz por finalmente te ver". Na realidade, nenhum tipo de sorriso se encaixa bem nessas horas. Ninguém com remorso fica sorrindo e eu não gostaria de ver alguém que me deixou esperando, feliz.

É como no trânsito, onde um engarrafamento se justifica com uma tragédia. Se tiver ocorrido um acidente, ok, mas ficar parado por um longo tempo e numa altura qualquer o trânsito melhorar sem ver um carro de bombeiro parado na pista, pode causar frustração.

Ontem esperei uma prima por duas horas. Mas ao menos estava na Livraria da Travessa do Barra Shopping, onde nunca havia visitado. Depois de cinco minutos lá, achei que havia morrido e estava no céu. Primeiro que não há quem te incomode - havia uma garoto lendo história em quadrinho e, acredite, um homem copiando trechos de um livro, aberto em seu colo. Não é preciso abusar, mas pode-se ficar bem à vontade. Livros, muitos livros, DVDs raríssimos e o CD da trilha sonora de Into the Wild para ouvir naquelas máquinas com fones de ouvido ultra fodas. Se houvesse uma TV e um DVD, eu viveria lá e seria uma pessoa muito feliz.

Só que depois de uma hora só admirando a paisagem, sem poder comprar nada, pensa-se ou em pegar o máximo de coisas possíveis e sair correndo da loja sem olhar para trás ou sacanear sua prima e ir embora ou continuar esperando, alimentando a agonia e a raiva que toma conta de cada da célula do corpo.

Até o céu nessas circunstâncias perde seu bálsamo. Que dirá uma estação de metrô, que por si só não tem nenhum atrativo. Nesse tempo de espera, localizei-me perto de uma das saídas da estação, quando uma mulher se aproxima:

- Você sabe onde fica a saída para a Nilo Peçanha?

Por mais que eu ande pelo Centro do Rio, eu ainda me perco fácil entre as ruas cariocas - e não gravo seus nomes. Então, automaticamente ao ouvir a pergunta, construo mentalmente um mapa da cidade.

- Uhmmm... É por ali. E aponto para a saída mais distante de onde nos encontrávamos.

- Obrigado.

Cinco minutos depois, a mulher volta na minha direção com passos fortes, dá um soslaio do desprezo em mim direção e segue pelo caminho correto.

E minha amiga chegou um pouco depois. Nem demorou tanto.

23 novembro 2008

beleza ininteligível

Acabei de [re]assistir 2001 - Uma Odisséia no Espaço.

Eu tenho um desejo: entender 2001 - Uma Odisséia no Espaço.

Mas como acredito que a arte não precisa ser entendida para ser sentida, 2001 - Uma Odisséia no Espaço me deixa embasbacado do início ao fim. Difícil, muito difícil - ainda hei de revê-lo muitas vezes para compreender o significado do que ainda me deixa perturbado -, mas uma ode, lindo e muito foda - e hei de rever principalmente por isso.

11 novembro 2008

Deus, tente outra vez

Hoje no ônibus, uma mulher paga a passagem e passa pela roleta e senta em um lugar vago, ocupando completamente o seu assento e metade de outro ao lado. Abre sua bolsa e retira um pequeno saco plástico e joga no chão do ônibus. Em seguida, remexe dentro da bolsa e agora é a vez de uma embalagem de bala, que passa a fazer companhia ao outro lixo no piso do veículo. Tudo numa naturalidade tamanha.

Ontem no trem, o trabalhador ao meu lado comia um pastel gorduroso, adicionado de ketchup que era transportado em seu bolso. A pequena embalagem do molho é lançada nos trilhos, num simples movimento do homem levantar o braço e encurvar sua mão para trás em direção à janela aberta. Continuava olhando para a frente e comendo o seu pastel, envolto num guardanapo e num saco de papel, os quais também não seguem viagem e ficam no meio do caminho, lá pelos trilhos. Caso ele estendesse o braço para a sua esquerda ao invés de para trás, o lixo estaria dentro de uma lixeira.

Um certo dia no trem, após ler um anúncio que carregava, o rapaz o amassa, fazendo dele uma bolinha de papel a fim de ser arremessada para fora do transporte. Poucos minutos se passam. Ele retira seu MP3 do bolso e encaixa o fone e aperta um botão. Retira a pilha descarregada do aparelho e a joga pela janela. Pegue uma nova pilha do bolso para ser plugada no MP3. Não havia lixeiras nesse vagão, mas por que não guardá-la no bolso no lugar da outra?

Isso quando não acham que temos que ver essas cenas ao som de funk. Porque agora virou moda não usar mais fone de ouvido com o celular. O indivíduo compartilha o pancadão com todo o transporte coletivo por conta própria. Ninguém pede. Ele somente parte do princípio que todos devem ouvir o mesmo som que ele durante toda a viagem.

São cenas do meu dia-a-dia. Não tento mais entendê-las. Não acredito numa revolução humana - pelo menos, não para essas pessoas. Como diz um certo blogueiro, "a humanidade não deu certo". E sinceramente, dá nojo.

06 novembro 2008

para graves problemas, simples soluções

Há momentos que me sinto passando por uma certa crise. Não crise existencial, sexual... As desse tipo são minhas companheiras fiéis. Podem se ausentar de vez em quando, dando uma folga para si [e para mim], mas são filhas pródigas e sempre voltam para o papai aqui. Acolho-as mesmo sabendo que irão tirar novas férias em breve. É quase o ciclo da vida que Mufasa explicou para o Simba quando este ainda era um filhote e esperava euforicamente o seu reinado.

Mas não são essas crises. Falo de uma crise, digamos, na falta de um termo melhor, "cinematográfica". São fases as quais não me sinto um bom receptor da arte. Ou um receptor insensível, imaturo, desprovido de maiores emoções, incapaz de perceber o que um filme tem de bom ou de sentir seja lá qual sensação ele possa causar. É como uma maré de falta de percepção artística. Não digo só em não notar as qualidades técnicas do filme, mas de ser tocado, de sentir prazer, de ser atingido por algo aquém da minha realidade. É claro que o prazer vem quando me deparo com um bom filme. Isso é tão óbvio quanto dois mais dois é igual a quatro. Todavia, porém, entretanto, há filmes que tem qualidade técnica, nenhum problema gritante, uma boa história e blá blá blá, mas ainda assim sinto-me distante do que assisto.

Um dia desses falava com a Suzana: "Os filmes do Hitchcock são bem bons, mas quando termina parece que não vi mais que uma boa história bem filmada". Isso é meio crítico - quero dizer, talvez eu me "critique" por isso -, principalmente por se tratar de Hitchcock, o grande Hitchcock - e, de fato, não duvido da sua grandeza. Mas acontece, né? Acontece com você também? O problema vem com uma correnteza de filmes desse naipe e daí explode a crise. Porque assistir um, dois filmes consecutivos e se deparar com essa questão, tudo bem. Mas quando se vê cinco filmes e percebe isso com todos, você acaba achando que o problema não estão nos filmes, mas em você.

Eu me encontrava assim.


E aí ontem eu fui assistir Linha de Passe.

Assisti também Baby Love, mas não é desse que quero falar, ainda que tenha sido bem agradável e divertido. Pra falar a verdade, também não quero resenhar sobre Linha de Passe, pois não conseguiria. Não tem coisa mais falível que transpor emoções em palavras. Seria incapaz de escrever o quanto Linha de Passe me atingiu, mas posso dizer que ao sair do cinema, a vida de cada personagem do filme ainda se misturava à minha. Ainda estava vibrante por alguns e triste pelas atitudes que outros tomaram contra a sua vontade. Se pude ser tocado pela beleza artística das imagens feitas por Walter Salles e Daniela Thomas, sou atingido da mesma forma pela história contada. Não é um filme sobre miséria, pobreza, desigualdade social, mas sobre ausências, esperança, sonhos, conquistas, desamparo. São paradoxos que permeiam a vida daqueles cinco humanos tão distantes se vistos isoladamente, mas tão próximos pela relação familiar e afetiva. E digo "humanos" ao invés de "personagens" pois a simplicidade com a qual a realidade é mostrada, seja pela atuação dos atores, seja pelos conflitos, é o que faz de Linha de Passe um filme envolvente e tocante até o último frame.

Quanto a edição, fotografia, trilha sonora, minúcias da direção e essas coisas, deixo para quem entende melhor que eu. E não são sobre esses detalhes que precisava falar, ainda que esses detalhes tenham contribuído imensamente para a minha impressão do todo. O mais importante é que me deparei com aquele tipo de filme que justifica o meu amor por cinema e faz dele uma arte completa.

Assim, sinto-me longe de uma crise por um bom tempo. =)

04 novembro 2008

piorou de vez...!

"Projeto do Senado proíbe meia-entrada nos finais de semana e feriados" [notícia na íntegra]

Mas que porra é essa?

Talvez você soubesse disso há mais tempo que eu, mas como vivo num mundo paralelo, só tive conhecimento da notícia hoje. E fiquei assim, um tanto puto, para ser mais objetivo.

Por que esses senadores querem mexer justamente na lei que mais me beneficia? Eu quase não vou ao cinema final de semana, é verdade, mas pode acontecer. É justamente o dia em que o preço é abusivo. Fico com dó de quem tem que pagar R$ 16/18 para assistir a um único filme. Eu não pagaria isso nem por uma sessão especial de Magnólia no melhor cinema do Rio de Janeiro. O que é mentira, claro. Mas os ingressos de cinema estão absurdamente caros. Talvez esteja sendo um tanto egoísta e partindo do princípio que manter um cinema, principalmente os de rua, seja fácil. Mas semana passada paguei R$ 7,50 em plena segunda-feira! E o pior: a sala era feia, tela pequena e som ruim [estou falando do Rio Sul]. E ainda tem gente que compra aqueles combos de pipoca e refrigerante, o que faz de uma simples ida ao cinema um pique-nique de luxo e incomoda as pessoas, porque que barulho chato da porra faz aquele saco de pipoca! Fica uma orquestra de barulhos durante o filme. Ainda taco na cara de um.

E a notícia, pois então... Uma das propostas é criar a Carteira de Identificação Estudantil, o que seria um documento padrão para os estudantes e isso sim é uma boa solução para acabar com as carteiras falsificadas. Algo que sem dúvida deve ser combatido, tanto que é basicamente por elas que o Senado está tendo esse equívoco de restringir a meia-entrada aos dias úteis. São coisas que andam separadas, não acham? O valor total do ingresso aos finais de semana não soluciona nada e só beneficia as grandes redes [o que, volto a dizer, não devem sair no prejuízo por esse tipo de crime]. A carteira falsa ainda poderá ser usada em todos os outros dias. Ou seja, o que deve ser combatido, não será combatido.

Para shows e afins, é engraçado que a meia-entrada fica restrita às segundas, terças e quartas-feiras. Agora me diga se você já foi a algum show em um desses dias da semana. Pode ter ido, mas não foi a maioria, com certeza. Sem condições pagar R$ 80/100 para um show e peça de teatro! Eles disseram que se a lei entrar em vigor, o preço dos ingressos vão cair. Você acredita? Eu não. Justamente agora que iriam faturar mais, o preço terá uma queda de, digamos, 30%, assim, bruscamente? Duvido. Isso não faz parte do sistema.

Com essa lei ou não, estou me dando conta que terei que ser estudante para o resto da vida.

28 outubro 2008

última parada 174

Por mera coincidência, quando saí do cinema, o primeiro ônibus ao qual fiz sinal foi o 175. Felizmente, nenhum Sandro subiu em seguida na condução e a última parada que o 175 realizou, foi na Central do Brasil, onde estava previsto. Durante a viagem, passei por alguns cenários que acabara de ver naquele filme, em especial a Candelária, e continuei pensando sobre tudo que havia assistido.

Tinha ouvido e lido por aí opiniões não-favoráveis a Última Parada 174. Um típico comentário negativo era o assalto ao tal ônibus se resumir a uma pequena cena do filme - e ainda ser guardada para os últimos minutos da projeção. De fato é o que acontece - apesar de ter durado mais do que eu imaginava. Mas, não fato, apenas impressão pessoal, era o melhor a se fazer.

Quando fiquei sabendo que Bruno Barreto iria dirigir um filme
[ponto negativo 1] ficcional sobre a história do Sandro do Nascimento [ponto negativo 2] e seria refilmado o episódio do ônibus 174 [ponto negativo 3] torci o nariz. Imaginei que o filme se proporia a ser uma mera transposição daquele assalto verídico, visto por todos inúmeras vezes, a uma encenação que, por mais próxima aos acontecimentos reais, não atingiria o público como fazem as imagens reais. Eu não via o menor sentido nessa proposta, nessa recriação e, ufa, não é essa a proposta do filme. No fim das contas, acho o tempo que o assalto ao ônibus ocupa na tela ideal e o modo de realização da cena eficiente.

E até chegar ao gran finale, Última Parada 174 mostra uma história bem construída repleta de licença poética, inserindo personagens fictícios em meio a trajetória de Sandro, colocado no papel de vítima da desigualdade social, da falta de família, da criminalidade, da falta de incentivo e apoio, de um sistema de recuperação deficiente e o que mais você quiser. E isso é óbvio [nem precisava um personagem do filme dizer em certo momento, como inutilmente ocorreu], mas ainda há o direito de escolha de Sandro e nada o que sofreu é justificativa para o que protagonizou. Quando há oportunidades de mudanças, não são nelas que ele se refugia. Mas esperar que tome com facilidade uma atitude diferente a esta é muito fácil para quem está do outro lado, como eu e você.

Contendo essas questões sociais que você já viu retratadas em outros longas brasileiros de mesmo aspecto, o filme se mantém interessante ao articular os personagens e desenvolver de forma positiva o envolvimento entre eles - até pensei em certo momento durante a sessão que o filme funcionaria bem independente de tentar mostras fatos reais, devido a trama bem construída que o roteiro oferece. Bruno Barreto me surpreendeu positivamente [seus últimos filmes fiz questão de manter distância] apesar de alguns descuidos que comete, como por exemplo na primeira cena de sexo de Sandro e Soninha, envolvida por uma trilha sonora totalmente desconexa com as imagens vistas e um zoom esquisito demais num cobertor que ocupa toda a tela mais tempo do que deveria. Não posso deixar de citar também um ônibus super-moderno [curiosamente é da empresa Amigos Unidos, a mesma da linda 174 - e a mesma que pego todos os dias para ir a faculdade, mas isso é um mero detalhe] que passa próximo à Candelária em pleno ano de 1983.

Última Parada 174 me trouxe à tona novamente a realidade a qual estou inserido [não que eu consiga dela me abster por muito tempo] e pareceu-me bem melhor do que imaginava. Mas mesmo para mim que não assisti o documentário de José Padilha - o que pretendo corrigir o mais breve possível - o filme soa esquecível e pequeno se comparado a produções brazucas de mesmo teor. E quanto ao Oscar, mais uma vez o Brasil está longe de ganhar um.

22 outubro 2008

conversa afiada

...da série: "Eu não precisava saber disso"

No trem lotado, uma moça e um rapaz conversam ao meu lado.

- Ai, eu gostei daquele novinho.

- Fica com ele.

- Eu já fiquei com ele. Bem, não foi ficaaaaar, mas fiquei.

- Ah, então é mais fácil ainda.

- Vai ter aquela festa e ele me chamou. Eu perguntei se o primo dele irá com a namorada. Ele deve achar que quero até ficar com o primo dele, mas não. É que se for uma festa que ele não pudesse levar a namorada, com certeza não seria uma festa decente. Eu perguntei "Você levaria a sua namorada para uma suruba?". Ele disse que não. Então deve ser uma festa tranquila, posso ir... Demorei tanto para reconstruir minha imagem.

Alguém passa a mão na minha bunda, mas como o trem tá cheio, relevo. Minutos depois, ela acrescenta:

- Ai, mas eu adorei aquele novinho.

Conclusão: ela quer dar para o novinho - de preferência numa suruba.

***

...da série: "eu não podia dizer outra coisa"

No ponto de ônibus, eu mais uma velhinha com as mãos ocupadas com sacolas de compras:

- Você vai pegar o Delamare?

[Delamare é um ônibus, não um homem]

- Não.

- É que eu ia pedir para você fazer sinal para mim.

- Tá, se eu estiver aqui ainda, eu faço.

- Ah, faz? Obrigado.

- Mas por que a senhora não coloca as sacolas no chão?

- É, é melhor. - ... - Eu pedi para meu marido vir me buscar de carro mas ele não quis.

- É, para isso eu não tenho nenhuma solução.

Conclusão: ela irá de ônibus para a casa e achou que, por algum motivo, eu precisava saber que ela não tem feito a vontade do marido na cama.

15 outubro 2008

top 10 | visualmente, as melhores atrizes do cinema

Não consigo ver um top rolando por aí e não fazer o meu aqui. Tenho um caso de amor e ódio com essas listas. O processo é muito prazeroso, mas sou sentimental demais e deixar alguém de fora me dói um pouco. Mas boiolice à parte - afinal, esse é um top de macho -, adiro a idéia que rodeia alguns blogs e faço também o meu top 10 das mulheres mais belas do cinema. Sem receio, deixo aqui o meu post mais bonito. Enjoy, man e woman [somos liberais]!


Natalie Portman
É possível não se apaixonar ao vê-la caminhando lentamente e lindamente e de cabelo vermelho, ao som de "The Blower's Daughter", nos primeiros minutos de Closer? Ou de peruca rosa - e perna aberta - na cabine da boate, ainda no mesmo filme? Se isso não foi capaz de te fisgar, ainda tem o desfecho, quando ela aparece mais linda do que nunca saltitante pela rua. Ou se preferir, de cabeça raspada, quando continuou com o mesmo charme. Como uma mulher não é só feita de formas, Natalie Portman é a coisa mais irresistível que já vi numa tela de cinema.






Kate Winslet
Ruiva, loira, cabelo verde ou azul. Não importa. Desde Almas Gêmeas, Kate Winslet se mostra uma atriz de beleza muito notável. Mostrando seus [belos] seios em Titanic, ela comprova minha afirmação. E vem comprovando ainda mais com o passar dos anos - é quase um vinho, quanto mais velho, melhor. Passa aquele ar de mulher madura e é um tesão. Adoraria um naufrágio em sua companhia.







Scarlett Johansson
Começou meio gordinha em Moça com Brinco de Pérola, continou sem graça em Encontros e Desencontros, mas quando apareceu em A Ilha era uma loira estonteante. Hoje já é uma coisa de outro mundo. Como conseguiu esconder tantas curvas por tanto tempo? Com o dote corporal que a foto ao lado mostra com bastante clareza, não precisava dessa boca perfeita e dos olhos verdes, mas Deus lhe amou um pouco mais que as outras mulheres. Entendo porque virou a nova musa do Woddy Allen... É a minha também.







Audrey Tautou

Saem as loiras de beleza arrebatadora e entra a morena com a carinha mais apaixonante do cinema. Meu avô que não cheguei a conhecer me dizia que uma mulher pode destruir com um sorriso qualquer armadura de machão que um homem possui. Foi depois que assisti a Amélie Poulain que me tornei sensível. Gracinha e fofa mais que qualquer outra coisa, Audrey Tautou tem os adjetivos que mais prezo em uma mulher. E ainda faz biquinho quando fala. Viva o cinema francês!






Nicole Kidman
Esqueça a Nicole Kidman plastificada de rosto robôtico estilo Vera Fischer de hoje. Agora volte aos tempos de De olhos bem fechados. Nem precisa ir tão longe: lembre-se da beleza ruiva vista em Moulin Rouge e tudo passa a fazer sentido. Falar de mulheres bonitas do cinema e não falar da ex do Tom Cruise é inevitável. Nicole é um charme só por existir, não precisa fazer mais nada para ser sensual - e nem um nariz grande e alguns anos mais velha, como em As Horas, ofuscou sua beleza. Obrigado, Kubrick, pela primeira cena de De ohos bem fechados.






Angelina Jolie

Outra figura carimbada quando se toca nesse assunto. Angelina tem tudo para fazer um homem feliz: gostosa, rica e mãe de família. Não falo da boca porque é redundante. É dessas que não importa onde chega, o lugar pára e até um cego irá admirar sua beleza. A questão é que não dá para olhar para Angelina Jolie e ficar indiferente. Ela desperta algo, seja lá o que for. Queria entrar na sua fila de adoção.






Kate Beckinsale
Eu me lembro do volume que aquele shortinho fazia em seu corpo em Click e das formas salientadas pelo figurino justo de Underworld. Cara de menina, que aloja um nariz empinado que é um mero detalhe, mas um corpo de mulher irretocável, Kate Beckinsale só tem um defeito: fazer filmes tão ruins.







Marion Cotillard

Piaf escondeu toda a bela mulher que se escondia atrás da personagem. E que bela. Marion Cotillard tem uma beleza diferente, que foge um pouco dos rostos convencionais, típica francesa, e é uma gracinha que só - fiquei com um sorriso de orelha a orelha durante seu discurso no Oscar deste ano. É meio mulher fatal com jeitinho de menina, o paradoxo que instiga qualquer ser do sexo masculino e que cai bem em qualquer ser do sexo feminino. Se tiver os olhos, a boca, o sorriso e o corpo de Marion Cotillard, melhor ainda.






Jennifer Connelly
Representando um grupo de mulheres que agrega duas combinações adoráveis pelo meu lado masculino [olhos claros + cabelo escuro e comprido], Jennifer Connelly é dona dessa combinação perfeita, o que já é suficiente para torná-la um atrativo em qualquer filme que participe, mas ainda é bem resolvida corporalmente. Também ficaria verde por ela.







Cate Blanchett

Cate tem um charme incomparável, que vai aumentando a cada cerimônia do Oscar. Cada ano que passa, aparece mais atraente no tapete vermelho da cerimônia. Não é linda e nem do tipo tiazinha-gostosa, mas me atrai pelo conjunto da obra - e não dá para negar que seu enorme talento fecha bem o pacote. Cate Blanchett é diferente, tem alguma coisa a mais. Não precisa saber o que é, basta admirar.

11 outubro 2008

festival do rio 2008 - os fatos, os filmes e o fim

Dia 23/09 | Começa a venda dos ingressos antecipados. Na teoria, não na prática. O número de ingressos liberados para venda é tão ínfimo que é possível sair de lá de mão vazia.

Uma hora depois do início das vendas, chego ao Espaço de Cinema e retiro a minha senha para o atendimento
após perceber a quantidade de pessoas que havia naquele lugar. Estava certo de esperar muito. Olho para o papel na minha mão, a senha era 200. Olho para o painel eletrônico com a senha em atendimento, marcava 71. Estava certo de esperar mais ainda. Procuro por alguém conhecido - com senha menor que a minha. Não encontro ninguém. Resta ler ou dar uma olhada naquela lojinha-tentação de "bugigangas" de cinema e DVDs e livros usados. A partir do momento que preferi a segunda opção, tive certeza que não era o que devia ter feito - o preço de algum ingresso iria morrer em algo menos importante no momento. [in]Felizmente, consigo resistir e só saio com um DVD de Romeu + Julieta comprado por sete reais.

Imaginei que fosse esperar
por mais tempo, mas após uma hora o painel marcava a senha 199. Euforicamente, já me preparo para comprar os poucos seis ingressos que o dinheiro me permitiu. 200.

- Boa tarde. É... Rebobine, por favor.
- Não.
- Poxa. Vicky Cristina Barcelona.

- Ainda não.
- Droga. É... Cinzas do Passado - Redux.
- Também não.
- Porra! Velha Juventude.
Risos da atendente. - Não.

- Guerra sem Cortes.
Risos da atendente. - Não.
- Caralho! Queim
e depois de ler.
- Ah, esse tem!

Subo no balcão e começo a dançar o Tchan.

Triste e feliz [afinal, podia ser pior], volto com apenas um ingresso para a casa e com a convicção de que iria voltar muitas vezes ao Espaço de Cinema para comprar ingressos e nem sempre sair com eles. Não estava errado.

Dia 25/09 | Dou uma olhada no caderno do Festival que saiu no jornal O Globo, com toda a programação dividida por cinema e Mostra, da forma que não havia visto antes do dia 23. Fico maluco, pois há muit
o mais filmes interessantes do que pensava e quero ver todos; fico perdido, pois não sei como encaixar aquelas sessões entre minha obrigações; fico triste, pois não terei dinheiro para comprar tanto ingresso. Caio na real, contenho minha agitação e depois de muito pensar, adiciono à minha lista O Poderoso Chefão, O Fantasma da Ópera, Bi the way e Garoto dos Sonhos.

Lá vou eu novamente ao Espaço Unibanco comprar os ingressos. A atendente é a mesma do primeiro dia, eu digo "olá" e o diálogo que se segue é o mesmo da outra vez mais os novos filmes adicionados. E novamente só consigo um ingresso. Já estava ficando chato. Mas pelo menos, era garantido assistir O Poderoso Chefão na tela grande e isso me deixou radiante de alegria.

Dia 26/09 | À noite, vejo no site Ingresso.com que Vicky Cristina Barcelona havia sido liberado. Dou um pulo da cadeira e decido estar de pé cedo no dia seguinte para garantir meu ingresso.

Dia 27/09 | E lá estava eu no Espaço de Cinema pela manhã, já podendo contemplar meu ingresso do novo filme do Woddy Allen na mão.

- Vicky Cristina Barcelona.
- Ih, já esgotou!
- Hãããããã? Mas já? Nã
o acredito!Que merda!

Se existe um deus que rege os acontecimentos do Festival, estava certo que ele não se encontrava a meu favor. Como 20% dos ingressos são vendidos no dia da sessão, decido então mo
ntar barraca em frente ao cinema no dia.

Já sou amigo da atendente, que compartilha sua alegria comigo com o único - claro! - ingresso comprado, O Fantasma da Ópera. Veria um filme do Dario Argento no cinema! Ao menos, minha ida até lá nunca era em vão.
FILME: O PODEROSO CHEFÃO [The Godfather, 1972], de Francis Ford Coppola.
Confesso: não acho The Godfather a oitava maravilha do mundo. O livro está entre os meus preferidos, o Don Vito Corleone é um dos personagens mais fodas do cinema, mas nem assistindo na tela grande - e pela terceira vez - minha opinião mudou. Tem algumas cenas fabulosas [a do batismo é espetacular, pelo seu verdadeiro significado, sua edição e o banho de sangue e tiros visto na tela], acho o roteiro bem construído, lidando bem com todas as tramas decorrentes, as reviravoltas e a transformação do Michael Corleone no decorrer do filme contribuem para manter a minha atenção, e por aí vai. Entretanto, quando os créditos finais surgem com a trilha memorável de Nino Rota - entrei e saí da sala "cantando" o tema -, eu me pergunto se dormi em alguma parte ou se coisas passaram despercebidas por mim, pois continuo achando O Poderoso Chefão nada além de um ótimo filme. Assim é a vida. =) Sessão lotada, o rolo do filme é de propriedade particular do Coppola [segundo a informação dada antes da sessão] e para a preservação do mesmo, os negativos não eram colados, fazendo com que houvesse uma pequena interrupção a cada 20 minutos para que realizasse a troca do rolo. Tudo isso mais Marlon Brando em tamanho macro mais trilha sonora às alturas. Preciso definir a experiência? NOTA: 9
Dia 29/09 | Mas como "nada está tão ruim que não possa piorar", o dia de ir lá à toa iria chegar. E chegou.

Dia 30/09 | Quanto aos ingressos, o deus do Festival me deu uma folga - já era tempo. Rebobine, por favor, filme que mais aguardava, e Garoto dos Sonhos garantidos.

Dia 01/10 |
FILME: GAROTO DOS SONHOS [Dream Boy, 2008], de James Bolton
Começa devagar, com uma narrativa lenta, sem pressa para desenvolver o romance entre os dois garotos, trilha sonora econômica composta somente de cordas, tomadas revelando as paisagens locais, fotografia natural... Já vi isso em algum lugar [Brokeback Mountain versão teen?]. Se fosse um pouco do filme do Ang Lee já estaria bom. Depois do bom primeiro ato, mas que nunca emplaca, o filme corre ladeira abaixo ao inserir uma subtrama de teor sobrenatual [!!!], acarretando num desfecho equivocado e muito, muito estranho. É chato, infantil, bobo e eu deveria ter escolhido outro filme ao invés desse. No fim das contas, parece um filme feito exclusivamente para homossexuais. Como sinopses enganam... NOTA: 5
Chego em casa com uma forte dor de cabeça. Depois vem dor de garganta, febre, indisposição... Precisava melhorar para a sessão de Vicky Cristina do dia seguinte. Que Deus e deus me ajudem.

Dia 02/10 | Por que eu fui me sentir mal necessariamente hoje? O Universo não queria que eu visse Vicky Cristina Barcelona no cinema. Era isso. O U
niverso é maior que eu, não dá para lutar contra isso. Puto, inconformado, frustrado e febril, decido me poupar para a sessão de O Fantasma da Ópera mais tarde.
FILME: O FANTASMA DA ÓPERA [Il Fantasma dell'opera, 1998], de Dario Argento
Como um diretor consegue fazer Prelúdio para Matar, praticamente uma aula de como filmar com estilo e elegância, e essa versão de O Fantasma da Ópera, que eu poderia resumir, para ser objetivo, como uma merda? Nada de All I Ask of You, The Phantom of the Opera, Masquerade, The Music of the Night ou qualquer outra bela música da ópera original. Essa versão do Argento é um filme de terror trash com mortes incomuns, uma deturpação da história original [acredite: o Fantasma foi criado por... ratos] inserida num roteiro repleto de frases poéticas que ninguém falaria em sã consciência. Mas Asia Argento é uma belezinha e o filme de tão ridículo chega a ser engraçado. NOTA: 3,5
Dia 03/10 | Tudo o que eu queria era ver um filme bom no Festival do Rio. Tudo o que eu não conseguia era isso. Comprado os ingressos de Velha Juventude e Cinzas do Passado - Redux, mas mediante a nuvem negra que pairava sobre qualquer sessão que freqüentava, já duvidava da qualidade de qualquer filme daqui pra frente. Se Coppola fizesse um remake de Jack ou Kar Wai um Kung-Fusão, eu não me surpreenderia.

Fiz pequenas modificações na minha programação e consegui comprar todos os ingressos que gostaria. Despedi-me da minha amiga atendente dizendo que ela me dava muito azar, pois bastava ser atendido por outra pessoa para
conseguir os ingressos. Ela riu, eu disse "valeu" e não a veria mais até o último dia do Festival.
FILME: DE REPENTE, O INVERNO PASSADO [Improvvisamente l'inverno scorso, 2008], de Gustav Hofer e Luca Ragazzi
Quanto mais eu vejo documentários, mais eu gosto do gênero. E isso é uma tremenda mudança - há um tempo, eu mantinha distância de tais filmes. Retratando a homofobia na Itália mediante uma possível mudança na legislação que legaliza o casamento gay, o documentário revela um país conservador ao extremo, onde a Igreja, a sociedade e o próprio parlamento tentam vetar uma igualdade civil. Os diretores, personagens de sua própria história, amenizam com muito humor - mas sem diminuir - a incompreensível realidade a qual estão inseridos. Interessante e surpreendente para quem achava que as coisas aqui eram ruins demais para essa minoria. NOTA: 7,75
Dia 06/10 |
FILME: REBOBINE, POR FAVOR [Be Kind Rewind, 2008], de Michel Gondry
A sessão que mais esperava havia chegado. E eu não me decepcionei. Não esperava um filme no mesmo nível de Brilho Eterno - só Tarantino faz uma obra-prima atrás da outra [fãzóide mode on] -, mas Gondry compõe uma comédia prazerosa, eficiente, leve, com uma premissa original [eu nunca tinha visto nada parecido - se há, me avise] e uma sutil homenagem ao cinema, o qual por mais "simples" que seja, pode encantar o espectador no sentido em que se propõe. Michel Grondy conta essa capacidade do cinema com seu roteiro e mostra na prática com seu próprio Rebobine, por favor, simples mas com uma força tão vital que atinge o espectador com poucos minutos de exibição. Difícil não rir com a "suecagem" de longas famosos [o que foi aquela de 2001 - Uma Odisséia no Espaço?! LOL], Jack Black mais babaca do que nunca e MIchel Gondry se firmando como um dos melhores da atualidade. Quero ver de novo. NOTA: 8,75
Dia 07/10 |
FILME: CINZAS DO PASSADO - REDUX [Ashes of Time Redux, 2008], de Wong Kar Wai
Tem um primeiro ato promissor. Pensei "uhm, acho que verei o melhor filme do Festival". Quando passei a entender a história inicial - Cinzas do Passado não começa [nem termina] fácil -, dei-me conta que já estava envolvido demais com a trama e deslumbrado com o visual do filme. Mais uma vez, Kar Wai emprega cores fortes e contrastantes, utiliza-se da sombra dos objetos [ainda não esqueci o quanto uma gaiola pode contribuir visualmente numa cena] e usa como pode o foco de sua câmera; o resultado é indescritível. Porém, a exibição continua e a história vai mudando e surgem novos personagens e como são todos coreanos eu fico perdido pois são todos iguais e eu já não estava entendendo mais aquela história que vai parar em algum lugar que não sei qual é. Resumindo: eu não entendi muito bem e preciso assistir novamente. Mas aquelas imagens eram lindas demais... NOTA: --- [sendo justo]
Dia 08/10 |
FILME: DOIDÃO [The Wackness, 2008], de Jonathan Levine
Desinteressante é uma boa palavra para definir Doidão [e eu odiei esse título]. O filme não tem um sustento, só a boa sintonia em cena entre Ben Kingsley e Josh Peck [ele é EMO!], mas não chega a ser o suficiente para o resultado final ser dos melhores. Ocupando boa parte do filme com um romance que você já viu alguma vez na vida, acho sua premiação no Festival de Sundance um equívoco. Já até esqueci e nem consigo escrever mais nada. NOTA: 6,75

Dia 09/10 |
FILME: QUEIME DEPOIS DE LER [Burn After Reading, 2008], de Ethan e Joel Coen
Os irmãos Coen nasceram virados para a lua. Eles são iluminados. Já não bastava a obra-prima que realizaram este ano, Onde os Fracos Não Têm Vez, a dupla volta ao estilo de Fargo e entrega uma outra maravilha. Queime Depois de Ler é tão estúpido que os próprios criadores debocham da história que inventaram. É tão estúpido que chega a ser impensável por qualquer pessoa comum [eles são iluminados, como havia dito]. É tão estúpido que eu gargalhei inúmeras vezes durante a sessão. E é tão estúpido ao ponto de ser verossímil. Com um elenco irretocável [Frances McDormand é minha favorita, apesar da estupidez de Brad Pitt precisar ser citada] e uma trilha sonora que marca presença, o filme é surpreendente a cada instante e duvido que consiga imaginar onde a história irá chegar. Um dos melhores finais que já vi. Os créditos finais surgiam e eu ainda estava rindo. O melhor do Festival. NOTA: 9

FILME: VELHA JUVENTUDE [Youth Without Youth, 2007], de Francis Ford Coppola
Que filme estranho! Estranho num sentido ruim. Imagine um "mutante" vivendo durante a Segunda Guerra Mundial. Imagine esse "mutante" ser alvo de interesses nazistas. Imagine Tim Roth fazendo tal mutante, que numa cena, retira por telepatia uma arma - que fica revestida por pequenos raios - da mão de um personagem. Imagine Coppola dirigindo tudo isso. Consegue? Ele até que cria um estilo interessante, empregando enquadramentos não convencionais, invertendo verticalmente a imagem, fotografia bonita, mas... o roteiro é bizarro demais! Ok, é fato eu não ter entendido tudo, mas a história é ruim, não gostei. Às vezes parecia filme B de terror. Por não ter compreendido em sua totalidade, darei uma nova chance - o que, pra falar a verdade, não gostaria de fazer. Mais longo do que deveria, Velha Juventude é um pé-no-saco. Comecei e terminei com Coppola, só não achava possível isso na prática ser tão díspar. NOTA: 4,5
Não vi tantos filmes como em 2006 e nem um Tarantino como foi em 2007, dei azar com alguns filmes, mas não sou vidente. No fim das contas, tudo acaba valendo a pena - e os R$ 54 gastos somente com ingressos são meros detalhes. Se esse blog durar um ano, em 2009 retorno com o mesmo assunto. Até lá, eu espero.

05 outubro 2008

festival do rio 2008 - a semiótica


Há uma época do ano sagrada para qualquer carioca amante de cinema. Todo final de setembro sou tomado pela mesma agitação, euforia, ansiedade e tudo o mais que siga essa linha. Minha vontade de estar numa sala de cinema parece que triplica instantaneamente e se torna uma obrigação, um compromisso importante, basta eu ver algum anúncio do Festival do Rio pela cidade. Mas para usufruir do evento em pleno gozo, não basta apenas morar no Rio de Janeiro e ser cinéfilo.

De imediato, dois fatores me vêm à cabeça: dinheiro e tempo. São primordiais e os mais complicados - sabemos que ambos são algo desejado pela raça humana mais de uma vez ao dia -, pois precisam andar juntos para que o resultado seja satisfatório. Ser folgadamente ocioso, mas não dotado de uma carteira gorda, não traz muitos frutos. Uma boa saída neste caso é ser STAFF, assim poderá ver gra-tui-ta-men-te quantos filmes desejar. E como já é provido de tempo e trabalho voluntário enobrece a alma, duplique sua carga horária de "trabalho" para garantir mais sessões. Com muita tristeza no coração, digo que este não é o meu caso.

Há outras soluções como roubar velhinhas ao saírem do banco, ficar na esquina, contrabando e coisas parecidas, mas não é o mais recomendado. Ou diga para quem te banca com um tom de lamentação na voz: "Preciso assistir a esse filme no Festival? O que você pode fazer por mim?". Você terá que repetir isso várias vezes, preferencialmente em horas diferentes e oportunas - nunca depois de chegar a fatura do cartão de crédito -, mas sem exagerar pois cinema não enche barriga e a comida do mês seguinte precisa estar garantida. Até agora minha mãe não perguntou por que eu preciso assistir tal filme nem sugeriu que esperasse, e tem contribuído financeiramente [leia-se: sem não fosse por ela, não veria nada].

Também pode prover de muito capital, mas ser daqueles que precisam agendar uma ida ao banheiro ou vítima de uma conspiração internacional feita por todos os seus professores da faculdade, que decidiram passar um amontoado de provas e trabalhos justamente durante o Festival. Meu caso não chega a esses dois extremos e como ando bem desgostoso com a faculdade [pulemos essa parte], tempo não tem sido um grande empecilho. Basta faltar algumas aulas e sair cedo de outras para assistir àqueles filmes indispensáveis. E pre
encher os buracos da grade de aulas para conferir mais alguns.

Em outras palavras, durante o Festival do Rio, o melhor é ter nascido filhinho-de-papai e ser um exímio coçador de saco [não no sentido literal]. Se, como eu, você não se enquadra nessa situação, azar, dê seu jeito, e boa sorte.

Ainda fui injustiçado pela vida por morar mal - pessimamente mal para ser mais preciso -, o que me faz descartar qualquer sessão após às 21h. Sim, tenho muito medo da Central do Brasil e, apesar de amar em demasia o cinema, prezo pela minha vida e pelos meus pertences. Aliás, imagine roubarem minha mochila com os ingressos antecipados do Festival?! Se o ladrão ainda fosse assistir aos filmes - o que duvido -, iria contribuir artisticamente para a vida dele e como acredito no poder renovador do cinema, poderia tirar um do crime. Legal, não? Mas que aconteça com outra pessoa.

Outro fator é saber se organizar. Pois vejamos: você tem um cardápio de centenas de longas e curtas, divididos em mostras para todos os gostos - todas atrativas à sua maneira -, o que resulta em sessões com horários próximos e lugares diferente e terá que abrir mão de alguns filmes para poder ver outros e isso te deixará muito mal e triste. Sendo assim, ser decidido não é requisito, mas facilita as coisas. É chato, mas ao mesmo tempo prazeroso, folhear, provavelmente até o último dia de festival, o caderno com a programação, riscar um filme aqui por ser longe demais, outro ali porque o horário não bate e anotar num papel o que foi decidido. Essa é uma das graças do Festival do Rio: ficar extremamente confuso e se perder entre suas escolhas.

Mas, assim como para tudo na vida - como mostrou Macth Point, do Woddy Allen -, é bom que a sorte esteja ao seu lado. Claro que um bom faro é imprescindível na hora de escolher o que assistir, mas talvez seja possível não conhecer o diretor de um filme da década de 80 do Irã que está em exibição no Festival. O bom [isto é, o que eu faço] é garantir os mais comentados do Panorama Mundial, para quando estrearem futuramente por aqui [se estrearem! - cadê Detah Proof no cinema mais perto de você?] não precisar se preocupar. Com esses ingressos comprados, como escolher as outras produções?

Sinopse não é confiável, título muito menos. No Festival do Rio de 2006, escolhi, junto com minha companheira, dois filmes somente pelo o título. Um se chama O Mais Belo dos Meus Melhores Anos. Nome bonito, não? Mas o filme era uma bosta! Lembro que não aguentava mais assistí-lo. Já o outro entra no meu TOP de filmes preferidos e foi a maior supresa [positiva] do Festival até hoje. Só como curiosidade, chama-se C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor. Mas como um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, experiência assim não aconteceu mais.

E sorte, pe
lo menos até o dia de hoje, não tem me acompanhado como eu gostaria no Festival do Rio deste ano.

[Continua]