Já é tarde. Ele se perdeu e não sabe como voltar, apesar de ainda tentar por algumas brechas abertas para o concreto. Começou a construir um mundo que ainda não existe, não tem vida, não tem chão, não tem teto, não tem pé, não tem cabeça, não tem ninguém além dele e sua mente arquitetônica tomada de desejo, sonho, tesão, ferramentas para elaborar milimetricamente o presente ilusório.
- O que você me fez desapareça.
- Não foi nada. Eu não fiz nada disso.
Eles falaram isso durante um tempo. Um para outro. Ele queria chegar a um culpado. Ela queria não ser acusada de culpa. No fim das contas, tudo era um monólogo. Ainda assim, continuava a fim de encontrar alguma racionalidade em tudo isso...
- Não tem nem talvez ter feito.
Talvez, não. Realmente não deveria ter feito. Ele sabe disso. Ela sabe disso. Sempre souberam. Os dois. Mas ele nunca consegue dominá-la - e está para descobrir quem consiga.
Enquanto isso, ela continuava com seus objetos de trabalho a imaginar mais um pouco de um lado, mais um pouco de outro. Não precisava retocar nada, tudo era construído com a perfeição de um construtor graduado e de um exímio viajante onírico.
Enquanto isso, ele, receoso e roto, mas cheio de esperanças carregadas nas novas idéias a serem erguidas, foi pegar mais tijolos e sacos de cimento.
[em itálico - versos de Bicho de Sete Cabeças, de Zeca Baleiro, Geraldo Azevedo e Renato Rocha]
30 julho 2008
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4 comentários:
Muito bom!
"Já é tarde."
Essa frase joga por terra a verdade.
Parece-me que você não tem opção.
Tente duam próxima, falar claramente. xD
oi
que ele construa!
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