30 julho 2008

autobiográfico I

Já é tarde. Ele se perdeu e não sabe como voltar, apesar de ainda tentar por algumas brechas abertas para o concreto. Começou a construir um mundo que ainda não existe, não tem vida, não tem chão, não tem teto, não tem pé, não tem cabeça, não tem ninguém além dele e sua mente arquitetônica tomada de desejo, sonho, tesão, ferramentas para elaborar milimetricamente o presente ilusório.

- O que você me fez desapareça.
- Não foi nada. Eu não fiz nada disso.

Eles falaram isso durante um tempo. Um para outro. Ele queria chegar a um culpado. Ela queria não ser acusada de culpa. No fim das contas, tudo era um monólogo. Ainda assim, continuava a fim de encontrar alguma racionalidade em tudo isso...

- Não tem nem talvez ter feito.

Talvez, não. Realmente não deveria ter feito. Ele sabe disso. Ela sabe disso. Sempre souberam. Os dois. Mas ele nunca consegue dominá-la - e está para descobrir quem consiga.

Enquanto isso, ela continuava com seus objetos de trabalho a imaginar mais um pouco de um lado, mais um pouco de outro. Não precisava retocar nada, tudo era construído com a perfeição de um construtor graduado e de um exímio viajante onírico.

Enquanto isso, ele, receoso e roto, mas cheio de esperanças carregadas nas novas idéias a serem erguidas, foi pegar mais tijolos e sacos de cimento.

[em itálico - versos de Bicho de Sete Cabeças, de Zeca Baleiro, Geraldo Azevedo e Renato Rocha]

4 comentários:

Prof. Aline Costa disse...

Muito bom!

A Vilã disse...

"Já é tarde."

Essa frase joga por terra a verdade.
Parece-me que você não tem opção.

Tente duam próxima, falar claramente. xD

O Lerdo disse...

oi

????????????????? disse...

que ele construa!