Cacete! A Dercy morreu! Esse sujeito e predicado não combinam, parecem não fazer sentido na mesma frase. Quando eu soube da notícia não acreditei, não achava que isso aconteceria na minha geração. O que é incrível, afinal, ela chegou aos 101 anos - se a morte é certa para qualquer um, nesta idade é melhor já ir dormindo no caixão para ir se acostumando. Se acho que idade é algo totalmente irrelevante, ela personificava esse meu pensamento.
Este não é um post-homenagem, vale dizer, mas é que Dercy possuía uma força vital tamanha que mesmo vivendo um século inteiro, sua morte me espantou - e garanto que não só a mim. Adorava assistir às suas entrevistas, sua irreverência, suas baixarias, os palavrões... Ela era isso, mas não só isso. Na época em que minha avó era mais lúcida - foi-se o tempo -, sempre remetia uma figura a outra. Vó Edith abaixava a blusa para mostrar aqueles peitos enrugados e caídos para descontrair [se não for gerontófilo, não idealize], falava besteiras demais, ensaiava seu velório [isso era muito engraçado], desfilava em escola de samba e mostrava que, apesar das dificuldades que essa idade traz consigo, a vida só termina quando o coração pára de bater.
E Dercy Gonçalves sempre foi isso também. Eu nunca a vi de nenhuma outra forma a não ser alegre, rindo, contando piadas ou expondo uns pensamentos muito legais. "O ontem acabou. Não tenho mágoa de nada e nem saudade de nada. Vivo o hoje. Tenho alegria de viver, adoro a vida", disse ela uma vez em uma entrevista. São poucos os que chegam aos 100 com um pensamento deste. Mas se for pra chegar assim, eu topo.
19 julho 2008
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2 comentários:
Velhos com vida me emocionam.
Eu só quero chegar aos 100 se for assim.
De outro modo, quanto antes, melhor.
Hum... A Dercy.
Confesso que não gostava dela.
Então me limitarei a comentar que o senhorzinho estar escrevendo muito bem.
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