Por mera coincidência, quando saí do cinema, o primeiro ônibus ao qual fiz sinal foi o 175. Felizmente, nenhum Sandro subiu em seguida na condução e a última parada que o 175 realizou, foi na Central do Brasil, onde estava previsto. Durante a viagem, passei por alguns cenários que acabara de ver naquele filme, em especial a Candelária, e continuei pensando sobre tudo que havia assistido.
Tinha ouvido e lido por aí opiniões não-favoráveis a Última Parada 174. Um típico comentário negativo era o assalto ao tal ônibus se resumir a uma pequena cena do filme - e ainda ser guardada para os últimos minutos da projeção. De fato é o que acontece - apesar de ter durado mais do que eu imaginava. Mas, não fato, apenas impressão pessoal, era o melhor a se fazer.
Quando fiquei sabendo que Bruno Barreto iria dirigir um filme [ponto negativo 1] ficcional sobre a história do Sandro do Nascimento [ponto negativo 2] e seria refilmado o episódio do ônibus 174 [ponto negativo 3] torci o nariz. Imaginei que o filme se proporia a ser uma mera transposição daquele assalto verídico, visto por todos inúmeras vezes, a uma encenação que, por mais próxima aos acontecimentos reais, não atingiria o público como fazem as imagens reais. Eu não via o menor sentido nessa proposta, nessa recriação e, ufa, não é essa a proposta do filme. No fim das contas, acho o tempo que o assalto ao ônibus ocupa na tela ideal e o modo de realização da cena eficiente.
E até chegar ao gran finale, Última Parada 174 mostra uma história bem construída repleta de licença poética, inserindo personagens fictícios em meio a trajetória de Sandro, colocado no papel de vítima da desigualdade social, da falta de família, da criminalidade, da falta de incentivo e apoio, de um sistema de recuperação deficiente e o que mais você quiser. E isso é óbvio [nem precisava um personagem do filme dizer em certo momento, como inutilmente ocorreu], mas ainda há o direito de escolha de Sandro e nada o que sofreu é justificativa para o que protagonizou. Quando há oportunidades de mudanças, não são nelas que ele se refugia. Mas esperar que tome com facilidade uma atitude diferente a esta é muito fácil para quem está do outro lado, como eu e você.
Contendo essas questões sociais que você já viu retratadas em outros longas brasileiros de mesmo aspecto, o filme se mantém interessante ao articular os personagens e desenvolver de forma positiva o envolvimento entre eles - até pensei em certo momento durante a sessão que o filme funcionaria bem independente de tentar mostras fatos reais, devido a trama bem construída que o roteiro oferece. Bruno Barreto me surpreendeu positivamente [seus últimos filmes fiz questão de manter distância] apesar de alguns descuidos que comete, como por exemplo na primeira cena de sexo de Sandro e Soninha, envolvida por uma trilha sonora totalmente desconexa com as imagens vistas e um zoom esquisito demais num cobertor que ocupa toda a tela mais tempo do que deveria. Não posso deixar de citar também um ônibus super-moderno [curiosamente é da empresa Amigos Unidos, a mesma da linda 174 - e a mesma que pego todos os dias para ir a faculdade, mas isso é um mero detalhe] que passa próximo à Candelária em pleno ano de 1983.
Última Parada 174 me trouxe à tona novamente a realidade a qual estou inserido [não que eu consiga dela me abster por muito tempo] e pareceu-me bem melhor do que imaginava. Mas mesmo para mim que não assisti o documentário de José Padilha - o que pretendo corrigir o mais breve possível - o filme soa esquecível e pequeno se comparado a produções brazucas de mesmo teor. E quanto ao Oscar, mais uma vez o Brasil está longe de ganhar um.
28 outubro 2008
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7 comentários:
quero ver o filme!
O doc eu vi, e é engraçado porque tenho praticamente as mesmas considerações que vc, no que diz respeito ao Sandro propriamente...
precisamos trocar figurinhas...
=D
=**
eu gostei do documentario. não esperava nenhuma refilmagem do episódio.. só espero que nem todos os casos assombrosos que acontecem no Brasil virem filme.
Concordo com voce em relacao ao sandro e a cena de sexo que parecia querer ser um tapa na cara de quem assiste, e nao foi - foi apenas feia. Quanto ao onibus, o 174 mudou de numero depois do ocorrido, virou 158. E nao lembro desse onibus em 1983 no filme, so lembro que ele sequestra em 2000. Nao vamos ganhar o Oscar, nem merecemos. Com certeza a gente tem coisa melhor pra mandar pro premio, mas...
Parece esquecível mesmo. De qualquer forma, vejo no domingo aí já publico minha opinião no decorrer da semana! Abraço, Jeff!
Simplesmente demais.
Assistí o longa na pré estréia e, logo depois houve um debate com o diretor, atores e uns riquinhos da escola britânica [RJ]. Uma merda!
Tenho a mesma opnião que vc. Gostei do filme. Não vemos mas Sandro como monstro, apesar de certos atos não pederem ser justificados...
Amei o blog!
Beijos!
Fala aew kara, pow costei muito da sua critica sobre o filme... eu to pra assistir esse filme e agora fiquei com muito mais vontade...eu sempre achei que ele fosse um monstro... um jovem perverso e só... mas hoje entendo que tem muito mais coisa por tras da atitude que uma pessoa toma na vida...
verei o filme (Baixado da net)nunca mais alugo filme.. e minha ida ao cinema tem sido bem poucas....adoro estar numa sala de cinema... mas hoje em dia tenho me esforçado pra ir...aff...preciso desligar minha net...rs
Lauro Cesar
Bom, não vi o filme ainda, mas depois do que li fiquei com vontade de ver.
Existem muitos fatores que levam uma pessoa a cometer tamanha monstruosidade, e concordo quando vc diz que as pessoas têm escolhas e que ele tbm teve a dele, por isso fez o que fez.
Acredito que não devemos julgar, mas confesso que qndo vejo coisas assim fico horroriza. E acredito tbm, e tenho levado, ou tentando levar, isso coigo: as pessoas têm suas próprias escolhas, e não devemos esperar que uma pessoa faça o que nó faríamos ou o que nós quisessemos que ela fizesse.
Acredito na desigualdade, na falta de oportunidade, em uma sociedade sem qualquer estrutura.
Mas uma moeda não tem apenas um lado, e o Sandro nós queremos ou não tinha sua história e fez sua escolha.
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