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"O que é a idéia de 'clássico' senão a idéia de um filme indiscutivelmente bom, para a conveniência de um público preguiçoso demais para formar uma opinião própria?"
Bernardo Krivochein
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Bernardo Krivochein
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É uma posição muito cômoda para qualquer cinéfilo qualificar como clássico ou obra-prima um filme que há décadas carrega esses títulos. Da mesma forma, uma opinião contrária pode chegar a ser um incômodo. Qual é a dificuldade em dizer que Cidadão Kane é um de seus filmes favoritos se qualquer lista de "Melhores de Todos os Tempos" o encabeça como tal? Mas dizer que não gosta de Stanley Kubrick pode estourar uma apartheid - e eu seria o primeiro a discriminar o irracional que profanasse tamanha falácia.
Ontem fui assistir Blow Up feliz e contente. Ê, todo mundo diz que é foda! Ê, é Antonioni! Ê! Ê! Ê! Ê que o filme terminou e eu fiquei com uma cara de WTF para a tela. A primeira coisa que pensei: "Que droga! Esse filme foi um saco!". E a segunda foi que eu teria algum problema por achar isso. Se o mundo [ou a maior parte dele, já que "toda unanimidade é burra"] diz que o filme é uma obra-prima, é bem provável que há motivos para isso.
O final é absolutamente foda, uma cena que isolada já seria bela o suficiente. Como desfecho da obra, concentra toda a concepção do filme, encerrando liricamente a noção de realidade e imaginário e o personagem do David Hemmings lidando de forma mais direta com essa dicotomia - se é que ambos estejam separados. Porém, um filme não é só o seu final e o decorrer de Blow Up não me agradou. Do Antonioni só havia assistido Profissão: Repórter o qual esteticamente acho mais interessante, ainda que Blow Up contenha enquadramentos e composição de cena tão estilosos quanto. É fato eu não ter entendido todos os simbolismos propostos, ainda terei que rever mais algumas vezes, o que não será das tarefas mais prazerosas.
É isso, faltou prazer. Por enquanto, tenho a dizer [com receio] que a primeira impressão foi negativa. Mas havia achado Pulp Fiction bem normal na primeira vez que o assisti e hoje tem um poster do filme na parede do meu quarto; já dei a Jesus Cristo Superstar o título de "pior filme do mundo, o qual hoje, é, com folga, um dos meus musicais preferidos. Uma revisada pode mudar muita coisa - ou apenas reforçar sua opinião. E essa é uma das melhores coisas do cinema.
Assim, ainda que amanhã possa estar diferente, deixo aqui meu TOP 10 dos filmes mais superestimados da história. Vale ressaltar que, com exceção de poucos, não são filmes ruins - alguns até gosto -, mas filmes cultuados demais por aí que pra mim não são grande coisa. Fique à vontade para jogar pedras e deixar seu top nos comentários.
1. Casablanca [idem, de Michael Curtiz - 1942]
2. Fogo Contra Fogo [Heat, de Michael Mann - 1995]
3. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa [Annie Hall, de Woody Allen - 1977]
4. Blow Up - Depois Daquele Beijo [Blowup, de Michelangelo Antonioni - 1966]
5. Encontros e Desencontros [Lost in Translation, de Sofia Coppola - 2003]
6. Dogville [idem, de Lars von Trier - 2003]
7. Metrópolis [Metropolis, de Fritz Lang - 1927]
8. Platoon [idem, de Oliver Stone - 1986]
9. Qualquer um do Chaplin - que não seja O Grande Ditador
10. Wall-E [idem, de Andrew Stanton - 2008]