06 novembro 2008

para graves problemas, simples soluções

Há momentos que me sinto passando por uma certa crise. Não crise existencial, sexual... As desse tipo são minhas companheiras fiéis. Podem se ausentar de vez em quando, dando uma folga para si [e para mim], mas são filhas pródigas e sempre voltam para o papai aqui. Acolho-as mesmo sabendo que irão tirar novas férias em breve. É quase o ciclo da vida que Mufasa explicou para o Simba quando este ainda era um filhote e esperava euforicamente o seu reinado.

Mas não são essas crises. Falo de uma crise, digamos, na falta de um termo melhor, "cinematográfica". São fases as quais não me sinto um bom receptor da arte. Ou um receptor insensível, imaturo, desprovido de maiores emoções, incapaz de perceber o que um filme tem de bom ou de sentir seja lá qual sensação ele possa causar. É como uma maré de falta de percepção artística. Não digo só em não notar as qualidades técnicas do filme, mas de ser tocado, de sentir prazer, de ser atingido por algo aquém da minha realidade. É claro que o prazer vem quando me deparo com um bom filme. Isso é tão óbvio quanto dois mais dois é igual a quatro. Todavia, porém, entretanto, há filmes que tem qualidade técnica, nenhum problema gritante, uma boa história e blá blá blá, mas ainda assim sinto-me distante do que assisto.

Um dia desses falava com a Suzana: "Os filmes do Hitchcock são bem bons, mas quando termina parece que não vi mais que uma boa história bem filmada". Isso é meio crítico - quero dizer, talvez eu me "critique" por isso -, principalmente por se tratar de Hitchcock, o grande Hitchcock - e, de fato, não duvido da sua grandeza. Mas acontece, né? Acontece com você também? O problema vem com uma correnteza de filmes desse naipe e daí explode a crise. Porque assistir um, dois filmes consecutivos e se deparar com essa questão, tudo bem. Mas quando se vê cinco filmes e percebe isso com todos, você acaba achando que o problema não estão nos filmes, mas em você.

Eu me encontrava assim.


E aí ontem eu fui assistir Linha de Passe.

Assisti também Baby Love, mas não é desse que quero falar, ainda que tenha sido bem agradável e divertido. Pra falar a verdade, também não quero resenhar sobre Linha de Passe, pois não conseguiria. Não tem coisa mais falível que transpor emoções em palavras. Seria incapaz de escrever o quanto Linha de Passe me atingiu, mas posso dizer que ao sair do cinema, a vida de cada personagem do filme ainda se misturava à minha. Ainda estava vibrante por alguns e triste pelas atitudes que outros tomaram contra a sua vontade. Se pude ser tocado pela beleza artística das imagens feitas por Walter Salles e Daniela Thomas, sou atingido da mesma forma pela história contada. Não é um filme sobre miséria, pobreza, desigualdade social, mas sobre ausências, esperança, sonhos, conquistas, desamparo. São paradoxos que permeiam a vida daqueles cinco humanos tão distantes se vistos isoladamente, mas tão próximos pela relação familiar e afetiva. E digo "humanos" ao invés de "personagens" pois a simplicidade com a qual a realidade é mostrada, seja pela atuação dos atores, seja pelos conflitos, é o que faz de Linha de Passe um filme envolvente e tocante até o último frame.

Quanto a edição, fotografia, trilha sonora, minúcias da direção e essas coisas, deixo para quem entende melhor que eu. E não são sobre esses detalhes que precisava falar, ainda que esses detalhes tenham contribuído imensamente para a minha impressão do todo. O mais importante é que me deparei com aquele tipo de filme que justifica o meu amor por cinema e faz dele uma arte completa.

Assim, sinto-me longe de uma crise por um bom tempo. =)

6 comentários:

Jujuzita Castro disse...

seus comentários simplesmente PERFEITOS sobre os filmes me dão vontade de assiti-los... hehe
já pensou em ser crítico??? vc se enquadra direitinho no papel.. =)

parabéns... bjs

Raphaela disse...

Então, vou te contar um segredo que até hj era SÓ meu, mas que talvez te ajude a passar por essa crise: eu adoro Woody Allen, do tipo que dá gargalhadas sozinha no cinema e fica com aquela sensação de : "sou retardada ou só eu entendi a piada????". Mas detesto Quentin Tarantino, e o bofe é "menos bom" por causa disso? claro que não!!!! O problema é que eu não me identifico.... Vai entender a empatia de cada um....

Bjus e bom filme!!!!!!

O Lerdo disse...

Sabe que eu não poderia deixar de responder, né?

Pedro Henrique Gomes disse...

Putz! Pior que o segundo comentário falou tudo já, apesar de eu gostar do Tarantino!

Abraço!

Unknown disse...

Sério, eu li o post de O Lerdo no outro blog e vim aqui p/ ver sua opinião. Comecei a ler e me deu nojo. Nuss... essa sua maneira de escrever irrita. Desculpe, "não pude deixar de comentar".

Helena C. disse...

Detestei esse filme. =)

beijos!